terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A falta da pele

Os versos mentirosos contaram ser a tristeza coisa triste

Mal sabia os poetas charlatões

Que a saudade é tristeza pior que a tristeza

É mal pior que a doença


Me assombras a falta de forma peculiar

Em um aperto no ventre

Em um pensamento pragmático

E um delírio das razões


Benzinho, as noites sem ti nem noite são

Me fazes falta o toque

O olho

A mente

A maneira

E o beijo


As noites sem ti são, no máximo, só noites

Sem tantas alegrias

Com quase nenhuma vontade.

Despidas de desejo

E pobres de festa


A saudade é bactéria

Contamina-me de tristeza

De vontade do que não posso

De saudade das tuas posses

Das tuas ordens

Das tuas vontades fúteis de segurar minha mão


Eu mal consigo pensar

Sou ralo em inspirações

Raso em poesia

És o fermento da minha criatividade

Os versos que componho em pura exaltação do amor


És o amor em si

Por isso amo o amor

És a presença

Por isso não vivo sem está


És meu infinito que busca o seu começo

És um começo já dado, mas que pressente a sua verdadeira largada

Começaste breve, em oito dias

Retumbaste grave em um ano

E reverberarás por toda a minha vida.

sábado, 8 de outubro de 2011

Homem, Mundo

Ah, Deus

Me orgulho dos vastos céus sem azul

Dos mares agitados e sem piedade

Das terras chacoalhantes e indignas


Me orgulham também as flores mansas e inocentes

O asfalto negro e resignado

As arvores que questão nenhuma fazem de se mexer


Assim me regozija a paixão

Sem calma nem paciência

Sem imagem nem decência


Da mesma forma o amor

Paciente e desprendido

Sem avidez nem possessão

Lento e etéreo como os ventos


Somos seres como a natureza

Violentos e pacíficos

Ingratos e agradecidos

Subjugados a dor e a alegria

Eivados por esperança e desespero.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Versos em Luz

Na solidão temporária
Avalio cada pedaço da minha dor
Derramada em lamento
Esperando pelo céu que se enegrece
Tornar-se mais uma vez claro

Observo como o Sol
Lentamente banha o mundo de um calor suado e confortável
Imaginando um conforto e sonolência
Tão necessários à pacificação do meu espírito
Quanto o sangue é necessário ao corpo

E a minha natureza se desfaz
Em pedaços miúdos caídos ao chão
Me separando de mim mesmo
Permitindo a cada pedaço da minha dor
Pensar por si só

Esbravejo pelo meu despedaçar
Grito de dor sufocado
Sem hálito e respiração
Sem bocas abertas ou cabeças baixas
Apenas olhos molhados
E coração encharcado de saudade

Que a razão me invada e me reconstrua
Em minúsculos pedaços de fé
Em inúmeras partes de esperança
E em infinitas partes de amor.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Versos de Clara

Fácil falar do amor em dor

Em pêsame

Em perda

Em separação


Mas teu amor em mim

Se mostrou mais que tudo

Mais que um dom

Mais que uma memória

Mais que um professor


Caminhando pela seara do meu desconhecido

Contemplo minha razão

Meu troféu solitário

Em completa balburdia

Em decomposição


Substituíste meu frio pensar

Pela alegria dolorida da emoção

Pelo amanhecer do meu amor por ti


Ainda inclino a cabeça para ver-te

Como o lobo que se curva para ouvir o vento

Freando meu pensar

E dando força ao gatilho do que me infesta

Ao refeitório lúcido do meu amor


És minha refeição

Meu pão diário

Aquilo que não pode me faltar

O incisivo golpe que cega

E a soberana ordem que dá vida


És o nascer e o renascer meu

O intuitivo modo de abrir os olhos

O involuntário ato de respirar


És um verso claro

Límpido e transparente

Que parte de mim

Da minha boca

Das minhas letras

E toma o mundo com a autoridade da tua beleza


Ah, meu bem

Te vejo como a flor

Que não padece sob o outono criminoso

Te vejo como a morte de todo ímpio

Como a extirpação de toda a minha iniqüidade


Me permites equilíbrio,

Sobriedade e felicidade

És meu começo e minha metade

Minha fartura e minha falta

Minha luz e meu pensar


És o beijo do vento em meu rosto

Meu amor em paz composto

Minha fatia de divindade

Teu amor por mim me invade

Me toma e me agracia

Me permite o sacrifício dos meus erros

E a premiação dos meus acertos


É o coração jovem que bate ruborizado

Em plena atividade de vida

O organismo que nunca padece


És parte mulher e parte inverno

Parte menina e parte calor

Parte de mim e parte de tudo

Pois parte de mim para ti

Meu amor, meus versos, meu mundo.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Tua cor marrom

Estupefato em necessidade

Assim me acho

Perdendo-me em ti

Nas tuas falanges de alegrias

Nas tuas guerras de lagrimas


O alibe do teu sofrimento

Por vezes é meus olhos mansos

Em calmaria profunda

Contemplando-te em indecisão


Ah, meu bem,

Essa tua cor marrom

Esse teu corpo febril

São as marcas da tua humanidade

Daquela que mesmo em fúria não perdes


Tens a peçonha do ser humano

Sem perder a santidade da carne


És o pão que nunca me pode faltar

O resto de homem que ainda possuo


O branco dos teus olhos

Escondido atrás do teu negro olhar

São a hipnose do meu observar


E assim sigo a vida

Em ti

Em mim

No mundo


No mundo cruel e perfeito que vivemos

Na vida mansa e infinita que fazemos

No amor imperfeito que forjamos

E banhado no pecado dos corpos.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Lavoura

Eu quero dar-te a flor do tempo

Não para que a vejas florir

Mas para que admire o seu perecimento

Perto da tua carne, perto do teu sopro.


E no convite da beleza dos ponteiros

Possas ver-te refletir no relógio parado

Nas válvulas quebradas

Do motor estático

Que perde sua força motriz.


Fechas os olhos e tudo se esvai

Abaixas as pálpebras

E me presenteias com o gelo das horas

Assim te fazes: guardiã dos absolutos

Aquela que desvirtua os mutáveis

Que violenta meus horizontes

Que me dá a poesia

Vivida, chorada, cantada.

Mas não escrita.


Eu vejo que não gostas de poesia

Mas tu, para que gostar?

Transpiras fermento da mente dos poetas

Fertilizas a semente das imaginações

És o irrigar das inspirações.


Te tornaste a lavoura dos meus versos

Onde o trabalho é minha religião

E o colher é meu cristo


És uma presa

Inalcançável ao instinto predatório

Inestimável a tua matilha que és tu mesma.


Passeias pelos vales dos meus olhos

Onde o seguir-te não é opção

Onde o querer-te não é voluntário.


És um verso torto e sem rima

Eivado de beleza ferina

Onde a tua cor castanha

Divina e humana

Faz de meu amor por ti, doce criatura

O mais belo bem libertador.

Paulinho

01/06/2011

terça-feira, 10 de maio de 2011

Chuva

A chuva derrama sua lagrima diária

Compelindo o mundo a chorar com ela

Lavando a rua dos sangues escusos e espúrios


A tempestade arrasta com o vento

Os nomes prostituídos deixados a beira pista

Levando consigo todos os lamentos da pobreza


Ah, quem me dera a chuva lavasse meus olhos

Pra não ter necessidade da lágrima resoluta

Quem dera a chuva limpasse meu rosto

Da feição feliz e resignada de saudade


Quem dera a tempestade

Arrastasse consigo as lamúrias do meu peito

Ardente em vontade

Sereno em amor


Que o vento emasculasse meus sentidos

Ou pelo menos os sentimentos

Por um dia, uma hora, uma semana

Poupando-me da distância

Das léguas

Dos quilômetros


Assim vivo eu

Assim vive meu poeta

Pela primeira vez

Mesclados em um único corpo

Hospedeiros de um mesmo amor

Vítimas e autores de um mesmo delito

Misturando ego e eulírico

Numa uniforme paixão por teus olhos


Assim vivo eu

Assim vive meu poeta

Feito índios dançando à chuva

Como ciganos migrando em direção a tua beleza

Como balonistas

Implorando ao vento sua misericórdia

De levar-nos ao teu encontro

Que nos permita de bocas abertas à tempestade

Provar tua saliva que irrompe em luz pelo espaço que nos separa.


Tua palavra

Tua vida

Tua luz

São as causas pelas quais pecamos

São os motivos pelos quais somos criminosos

São o caminho por onde juramos um dia não passar.


Nosso maior crime

Nosso maior pecado

Nossa maior infâmia

E nossa maior sorte

Foi amar-te como um só.

sábado, 7 de maio de 2011

Saudade

Eu gostaria de repetir o parto da tua chegada

Invertendo os pólos fugazes da tua distância

Perpetuando com isso as bocas que não se arrependem

Dos corpos que ainda se querem

E da saliva que não conseguiu se separar


Meu bem, te sinto tanta falta

A tua ausência esvazia meu ânimo

Me seca metade do copo

Me brinda a tristeza

Festejando saudade


Escrevo-te como um faminto

Desejando teu gosto sem prudência

Idealizando teu cheiro sem paciência


E no barato conclusivo da nossa distância

Falimos com o espaço

Dando à nossa liberdade

A forma mais doce de nos deixar prender.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Porquê

Sou advindo das coisas sem lógica

De coisas que nem as letras querem explicar

Sou filho das imagens sem forma

Sem sentido e sem coerência


Participo das vida como algo que não existe

Como algo que só plana

Que só recolhe o que ninguém quer

E só acolhe o que o quer


Não quero desenhos

Nem gosto das pinturas

Prefiro os rabiscos das crianças envolvidas em sua inspiração

Os traços mal feitos que expressam o seu sentir


Sim,

Eu sou algo alheio ao redondo do mundo

Algo apartado das colunas da vida

Ou de qualquer outra forma que queira ser imposta


Mas reformulo-me nas formas do querer

Do querer por querer

Sem saber nenhum porquê


Prefiro ser filho das coisas mortas

Das coisas que já perderam a vida

Ao ser herdeiro das coisas que vivem por algum sentido

Prefiro repousar na tumba dos que não se perguntam

Do que estar em meio a tantas interrogações


Viver assim me dá amor

Me dá o teu amor

Um amor que se basta em si mesmo

Que não questiona a sua forma

Que não mede o seu infinito

Que não soma nem multiplica

Mas que já existe na proporção máxima do sentir.

sábado, 30 de abril de 2011

Tudo meu; Tudo teu

Contemplo-te na essencia da saliva

No salgado da lágrima

Sentindo no meu deguste

O sabor da tua tristeza

Não te iludas

Que qualquer distância separe nossos corpos

Ou que qualquer espaço afaste minha lembrança

Eu permaneço contigo

Mesmo na ausência do tocar

Mesmo na falta no olhar

Meu âmago

Sofre pela tua falta

Meus sonhos choram o teu sofrer

E na perpetuidade do meu querer-te

Hospedo tuas lamúrias

Em fases contundentes de sentir

Na conexão das nossas paixões

Idas e vindas dos corpos

Reformas e formas da minha alma

Sentem a tua doçura

Se despedaçando em ciúmes

E recompensando em perdão.

Tens tristeza como todos

Mas minha tristeza é como de poucos

Sofro porque sofro

Ou sofro porque sofres

São as duas únicas maneiras

De não ter perto de ti

Os sorrisos de amor e compreensão

Que hoje

Que sempre

Terei ao te observar.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

8


Ontem marquei meu corpo

Marquei com algo definitivo

Com algo que assombraria os olhos vãos

Os olhos que são só do agora


Eu feri minha pele

Com uma marca mais antiga do que a ferida

Marquei-me com o símbolo da completude

Da interminável razão do pêndulo nosso


Com o ícone das tuas veias pulsantes

Dos teus sinais inebriantes

E de um sorriso que cega


Inspiro-me no teu paradigma de naturalidade

Na tua busca incessante pelo tudo

Entendendo a natureza das coisas

Sem contentar-se com as migalhas


Ah meu bem, a ferida ainda me dói

A cicatriz coça

E a cada martírio da pele

Eu sinto a doçura das tuas mãos em mim


Eu vejo na saudade das bocas

Na degustação das nossas salivas

A esperança inabalável das nossas mentes

E a progressão incessante dos nossos amores


Eu parti pelo ter

Não pelo querer

E na razão contida nos meus olhos

E a paixão irrompida em meu peito

Eu retornarei a algo que desde seu principio é sem retorno


Meu bem eu tive todas as razões para te deixar

Momentaneamente te deixar

Mas tive só uma pra permanecer

E permaneci

Insculpido em teu peito

Marcado em tua pele

Com a mais doce lembrança do que nunca precisa ser lembrado

Daquilo que jamais é esquecido

O infinito pródigo do nosso amor.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Retorno

Tens o que nem sabes
Via teu sorriso em lua
Hoje vejo teus olhos em chuva
O teu rosto me arrancando em felicidade
Agora, com toda simetria da inércia de não sorrir

São tantas vozes me conturbando os ouvidos
O teu atual descaso
Se encerrando em poucas palavras
A nossa distância
Em monossilabas tuas

Acabas por contrabandear
Todo o amor de mim
Talvez não o amor
Mas pelo menos a felicidade sensível

Tramitas entre meus opostos
Ora és minha dor
Ora és minha alegria

Hoje meu amor por ti me trouxe alegria, como sempre
Mas teu amor por mim me trouxe descaso
Me trouxe a dor do abandono
Presenteando a minha calma com inquietude
Dando agonia à minha alma
Enquanto que a alegria me prende a ti
A dor, momentaneamente, desfaz todos os nós

Me soltei de ti por algumas horas
E retornei ao conforto da solidão
Não me desacostumo dela
Pois sei que sempre à ela retornarei
Como um filho
Que arrependido das aventuras que saiu para viver
Retorna à casa.

terça-feira, 22 de março de 2011

Natureza Descomposta

Eu nasci eivado em solidão

Composto pela matéria alva do individual

Procurando em meio a olhos

A ridícula companhia da vida


Eu me encontrei no aperto confortável do peito

Na doença leve da alma

E na suave natureza solitária que aceitei ser minha


A ponta dos meus dedos é gelada

Sem nenhuma pretensão de tocar outra pele

Com pouca intenção de reformar a mim mesmo

Nem mesmo de fraturar a solidão alheia


Eu sou o que sou

De natureza individual

Sem companhia suficiente

Sem outro ser humano correspondente


Assim eu pensava

Mas não mais assim vejo


Vejo agora o aparecimento de doenças antigas

Seguindo de forma cogente a lei da cura

Troquei instintivamente

A suavidade da solidão

Pela dureza amável da companhia

Mas e minha natureza?

Onde fica?

Não era eu o homem auto-suficiente?

Não era eu o que independia do próximo?

Não era eu aquele que negava a fraternidade da minha natureza?

Não era eu aquele que investigava o âmago alheio

Com olhos de besouro e compaixão de lobo?

Que olhava o outro como uma peça de um estratagema lógico?


Não há sentido nisso tudo


Me recompus enquanto ser humano

Mas me indaguei o dilema de minha natureza

Como poderia eu ser um ser fraterno?

Como poderia eu ser companheiro?

Como poderia eu ter companhia?

Eu me conhecia pela solidão inveterada

E, na doçura do amadurecimento,

Me vi assim

E vi assim

Que não há natureza que possa me compelir

A ser algo diferente de meus sonhos.

sábado, 19 de março de 2011

Desnublar

Eu tenho passado dias sem um sol no céu

Dias em que as nuvens escondem a beleza celestial

Dias em que o negro do firmamento

Não me permite avaliar a beleza do acima

São dias úmidos e difíceis para a natureza

Dia em que tudo chora

Em que tudo lacrimeja


Eu tenho caminhado por ruas vazias e claras

Em que rostos estranhos e frios tem me chamado a atenção

Eu tenho andado por onde ninguém mais anda

Só as almas perdidas como antes a minha era

Pensam em dar passos largos e velozes

Em direção a um destino desconhecido

Indo de encontro com um objetivo até agora misterioso


Nada disso me importa

Nada disso me aflige nos dias que vivo


Vejo que nada entristeceu

Nenhum céu enegrece a toa

Nenhuma nuvem derrama lágrimas pelo simples ato

Nenhuma física explica o que se passa com a natureza


Tudo, na verdade

É composto por uma física volitiva e passional

Que o céu, as nuvens e o sol

Tem de reverenciar

Uma beleza tão cotidiana

Tão castanha

Tão grandiosa

Tão peculiar


A lógica esvaiu-se do natural


Hoje, as nuvens me cercam por essas ruas

Hoje, o pranto do céu só lava o chão por onde passo

E, hoje, o Sol saiu do céu e caminha a meu lado


É, meu bem

O mundo se rendeu a tua impaciência

A vida rendeu-se aos teus olhos grandes

Para que tu,

Inexplicavelmente

Desse a luz ao meu amor.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Tão

É engraçado como a vida me acontece em etapas, intervalos, de uma forma irreverente e espontânea.

Eu, já tão velho

Eu já tão desgastado pela dureza da vida

Eu já tão reformado em retalhos

Já tão dilacerado por tantas emoções

Nenhuma tão relevante

Nenhuma tão producente

Nenhuma tão nobre


Eu já tão calejado por palavras

Já tão completo pela teoria

Já tão instruído dos males e firmes do amor

Já tão informado das faces duras da dor

Me vejo como nunca me vi

Não me reconhecendo em mim

Com uma dor sem motivo

Com uma ansiedade inebriante


Eu cai e não levantei

Me joguei e não me ergui

Me afundei onde muitos homens não puderam voltar

Me vejo agora dentro do que conhecia apenas em canto

Sou agora a personagem angustiada das minhas histórias

Aquela que se desfigura

Que se refrata

Que se dispõe a ser o que é em sua plenitude

Que se faz transparente e dinâmico

Que se entrega em pura paixão


Agora falo com mais propriedade

Pobres dos homens apaixonados

Fadados a dor confortável da saudade

De se esperar o que não chega na hora que deveria

Que não dá chance ao alivio

Quando a minha rosa se mistura com o feto

E a poesia transpira a dor que vicia

Que não deve cessar

O aperto no peito

O suor na cabeça

As mãos que também transpiram

Em pleno movimento de expectativa

Em plena fantasia de anti-reciprocidade


Eu vejo agora

Porque nas mentes inebriadas que eu descrevo

O mundo deixa de ser suficiente

A solidão deixa de ser companheira ideal

E tudo se torna pouco

O eu é muito pouco

O tu é tão distante

E o nós é o único produto sustentável da vida que agora recomeça.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Ensaio sobre a luz

Eu ainda causo-te o arrependimento

Os verões desnecessários

Passam por minha janela

Deixando o degrade da tua partida


Eu poderia lembrar-me das tuas noites

Por vidas sem fim


A tua imortalidade

Deixada pelas noites primaveris

Chegam a mim com tom cruel

Com tom de açoite

De surra

De tortura


A tua mão repousada sobre teus livros

Me trazem a lembrança do teu tato

Assim como trazem os rios a meus olhos


Eu lembro tanto, meu bem

Do movimento dos teus olhos

Da esquerda para a direita

Lendo minhas poesias

Assim como tua boca

Que com o passar dos versos

Iniciava o sublime movimento do teu sorriso


Se tem algo que me conforta

É a lembrança do teu corpo

De frente pra mim

Em posição de abraço

Me dedicando o teu aroma

O teu toque


Se tem algo que me fere

É a lembrança das tuas costas

Me deixando

Me deixando um espaço vazio

Onde os meus versos não podem te alcançar

E a minha dor não pode lembrar-te


Mas lembra, meu bem

Lembra e nunca esquece

Dos dias juntos

Em que o seu numero representa o infinito

E os nossos corpos tenderam a cola

Ao grude de amor e carne

Que sempre nos compôs


És paciência e teimosia

O café em insônia

Minha droga pessoal

Minha doce dependência sem precedentes

Intervalando minhas dores

Ritmando meus versos

E se compondo em luz

A tua única e fiel natureza.

Paulinho 22/02/2011

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A noite e o "sim"

És meu sol em catarse

A luz que cega e chora

O que suporta o meu intimo

Aquilo que faz as dores da vida

Se tornarem a morte da solidão


Retrucas todo o meu amor

Dás reciprocidade aos meus olhos

Baixos, saudosos e fraternos

Te buscando em frias comunicações

Te trazendo de volta

Vestida de lembrança

Te perpetuando em mim

Trajada de futuro

Em expectativas reais


Ah, meu bem

Não desperdices minhas letras

Que te dão morada em mim

Que te abrigam no meu toque

Que via de regra

É frio e seco


Nas minhas mãos

E em meu peito

Quase nada vive

Nunca viveu

Mas tu vivificas

E me dás necessidade

Do que nunca havia tido


Eu me desfaço no negro lençol

Na víbora silenciosa da nossa saudade

Do nosso veneno e saúde


Os corpos se tocaram em desejo

As mãos apertaram-se em confiança

Os hálitos embaraçaram-se no espaço entre as bocas

Os olhos entreabertos

Viam-se na penumbra do romance


Corpos encaixados em prazer

Em íntima troca

Umbigos e cinturas

Que se beijam


E a pressa e o tempo

Se desfizeram

Perderam sua necessidade

Sua razão de existir

O que restou fora um momento sem tempo

Uma noite sem fim necessário

Uma alvorada voluntária

Um sol, que bem me lembro,

Nasceu vermelho em paixão

Aguardando o teu divino acordar


É vivido lembrar

Do teu rosto em pura sonolência

Repousando em meu peito

Agora fadado ao egoísmo das musicas de amor


A tua noite em mim

Fora uma noite de versos inesquecíveis

Em grata companhia eterna

Uma noite que até agora

Não teve coragem de acabar em mim


Em uma maquina gigante

Voaste em direção a um destino

Teimoso destino

Que insiste em nos unir

Em um uníssono

Refrão de saudade


Nos une em um monossilábico significado

Na palavra que nos representa

No som que nos identifica

Naquele verso que é o fundamento do nosso existir

O “sim”.