domingo, 29 de agosto de 2010

O Sertanejo


Maria, mulher
Braços fortes e Zé
Chão de barro nos “pé”
Seguiu a correr

Pela catinga rachada
Com a trouxa e a enchada
Com Zé de mão dada
Procurando o bucho encher

Viu logo um bodinho
Era de seu novo vizinho
Um sertanejo bonzinho
Mas que não podia lhe acolher

Foi triste a cena
Ver o menino Lucena
Sob aquela tarde serena
Sem ter o que comer

Perguntaram ao porteiro
Se podia ver o fazendeiro
Por seu trabalho do dia inteiro
Dar um pãozinho pra nós repartir

Foi assim que ele disse
Que de imediato partisse
Ou a raiva de dona Alice
Em cima deles ia cair

Não sabiam ao certo
Se o futuro incerto
Lhes deixaria ver seus “neto”
Que dos filhos iam sair

Perguntaram pro moço
Se cortando cana teria almoço
Que não levasse a mal o seu desgosto
Mas seus filhos tinham que comer

Era sujeito valente
Com terra nos “dente”
E desde já tava ciente
Que muito trabalho ia ter

Não tinha medo de trabalho
Era grande e rebarbado
Sem ter medo do terçado
Muita cana ia colher

No fim da colheita
Uma grande desfeita
Seria mal feita
Pelo seu mal feitor

Fugiu com o dinheiro
Do canavial inteiro
Sem dividir com os “obreiro”
O que lhes pertencia por valor

Não é coisa que se faça
Foi por pura pirraça
Que aquela desgraça
Veio trabalho me oferecer

As “mão” agora cansada
Que cortar cana desgasta
Os calos da mão farta
Que o sertanejo ia ter

Foi então que desesperada
Maria juntou logo a criançada
Pra ver se num ato de graça
O divino ia lhe prover

E Maria temendo
Pela vida do rebento
Pediu a São Bento
Um pão pra comer

Foi quando ele disse
Minha filha desiste
A seca é cruel
E não vai te atender.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Dela pra Ele

És garoto cheio de si
Que não vês a teu lado
Quem gosta de ti
Como um homem amado

Podes ser paixão passageira
Que passa e só deixa poeira
Mas és razão primeira
De meus pensamentos ao acordar

Amo-te como quem ama uma nuvem
És belo, alto e divino
Uma pena que talvez jamais possa tocar

Teu amor abunda-me como cachoeira
Banha-me a fronte, ilumina-me a alma
Vejo a ti como um intocável pensamento feliz
Que nunca será meu
Mas estará sempre em mim

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Pra ela

Tiveste-me de forma inesperada
Tive-te da forma que esperei
Eu, agora pra ti, sinto-me quase nada
Tu, agora pra mim, és lírio que colhi
És mulher mais que amada
És o meio, inicio e fim.

sábado, 21 de agosto de 2010

Teus olhos novamente

Meu bem, faz tempo que não lhe escrevo
Não pense que é falta de jeito
Só o tempo vai te falar

Menina, olhar teus olhos me é um parto aceso,
Já te cantei isso
Já me dei até desprezo
Só por te amar.

Nossos nomes, mesma letra
Com o P de pronunciar
As frases mais belas
Que um poeta poderia compor

Não tenho jeito com escrita
E sou melhor ator que poeta
Uma coisa é quase certa
Que contigo não atuo
Nem aturo
Coisas pequenas a me envenenar

Nado em rio incerto
De cristal e ladrilho
Olhando em teus lábios todo o brilho
Que só Deus poderia dar.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Manhã fria

Hoje amanheceu bem gelado, o céu era cinza, a noite não poerdoara a manhã passada pelas chuvas das dez da manhã. As nuvens fundiram-se em uma dança densa e confortável de frio. O Sol surgiu acanhado sem nem nos dar uma alvorada digna de um astro. Nem tive tempo de fazer a barba antes do café amargo que me fora servido por Conceição. Agradeci-a acariciando suas mãos negras e rústicas que me criaram com tanto amor para me verem em dias tristes como estes.

Engraçado que ultimamente tenho me percebido como um ser da natureza, ela me revela sentimentos ofuscados pelo orgulho que a todos atormenta. Quando o dia amanhece triste e monocromático como hoje, então eu também amanheço triste. Inevitavelmente com a tristeza vem a sublimação que me leva a escrever linhas a fio em meu papel pautado com a prancheta que comprei em uma loja de importados. Escrever ultimamente tem me sido uma necessidade a cada dia mais forte e estúpida, porém o dia amanhecera tão terrível em suas lágrimas que beijavam o asfalto que nem mesmo escrever me foi permitido pela melancolia com que a natureza brindava a janela.

Sentei-me na mesa da sacada, apoiei os braços no parapeito, e como uma criança que joga as pernas de lá pra cá, fiquei esvaziando a mente por algumas horas sem sequer pensar na resenha que deveria ter feito na noite passada em que entreguei-me às inspirações poéticas que me roubaram a atenção e o bom senso.

Olhava a chuva cair como uma criança que vê o brinquedo velho despedaçar, com o coração partido por perder algo que lhe acompanhara por tanto tempo, mas ao mesmo tempo animado com o novo brinquedo que lhe será dado pelo pai que nada deixa faltar. Despedia-me de cada gotícula de chuva que despencava individual das nuvens melancólicas para unirem-se a um grande todo mais forte, mais coeso e mais triste, como se me despedisse de um amor que me deixa por motivos inexplicáveis.

O asfalto negro como sempre acenava para mim com bastante rancor, como se fosse eu o culpado por afogá-lo em chuva clara e cristalina que ao tocar-lhe o ódio deixado pelos pneus apressados do dia-a-dia tornam-se negras, sujas e selvagens.

Cada carro que passa despedaçando a massa densa de água formaada pela chuva nas beiradas da rua e formando novas gotículas que por alguns segundos se tornam livres de um todo para voltar ao individual, também me enchem de esperança de abandonar o todo frio e comum a que faço parte. Não que tenha anseio por me tornar alguém especial e destacado da sociedade, mas sempre esperei também que as pessoas não olhassem umas as outras como se fossem um outro pino da pista de boliche que a qualquer momento venha a cair.

Ah, sinto que o coração bate sem saber porque, eis o grande problema de entregar-me ao ócio, ainda que este mostre-se bastante produtivo. Talvez por isso esteja me predendo a tantas divagações e metáforas acerca da chuva que observo cair.

Resolvi voltar para o quarto e prender-me a prancheta que me acompanhara na noite ingrata que fora maculada pela manhã fria de hoje. Que grande susto tomei ao tomar conta do quanto havia escrito em uma só noite mal dormida das várias da semana. Não seria tão possível a tristeza romper com os valores da imaginação para me permitir escrever absurdos tão grandiosos e tão dignos de emoção. Nem eu mesmo imaginara poder escrever tanta melancolia e coisas belas em um papel preso a um gancho.

Bendita luz divina que me iluminou a voltar ao meu quarto, pois ao tentar fazer com que minhas lágrimas acompanhassem as do céu que escorriam pelo vidro da janela, a avistei na entrada do pédio em que moro.

Sua calma e paciência invadiram-me na hora em que a avistei. A forma como tocava as grades da entrada do condomínio esperando autorização para entrar. Como seus dedos, um a um, e paulatinamente fixaram-se no aço frio do portão branco a sua frente. Como tornava sua cabeça para o lado para comunicar-se com alguém, seus cabelos negros como o asfalto de revolta que colocava-se atrás de si, pele alva, como as nuvens singulares e comuns dos dias felizes e sem inspiração que as vezes nos permitem comungar da alegria dos anjos.

Minhas mãos tremeram e suaram ao vê-la. Sua fronte agora voltara-se para frente, permitindo-me uma vaga visão de suas feições entre as grades. Fora um momento interminável, que nem sequer teve a decência de continuar da mesma forma, e se deu ao trbalho de tornar-se finito só pra me contrariar. Sabía que escreveria sobre ela, afinal de contas, que ser humano, ainda que analfabeto, não pintaria pelo menos figuras em uma parede para lembrar-se eternamente de um encontro divino como aquele que acabara de me acontecer?

Estava com uma blusa de algodão branca e uma saia longa que lhe cobria os tornozelos, mas de uma cor azul celeste, algumas de suas pulseiras negras, como meus olhos, em seu braço direito davam-lhe um toque de revolta em todo aquele reino de paz que incorporava em seu andar, em sua respiração, em seu sorriso que dera ao porteiro por permiti-la a entrada, até mesmo em seu jeito de deixar o coração bater, tanto o dela quanto o meu.

Ela não se dera o trabalho nem sequer de cobrir-se da chuva, permitindo às lagrimas celestes degustarem do sabor de sua pele seca naquele dia molhado, apesar de a cada momento que aguçava ainda mais meus olhos, que aquela altura mais pareciam de falcão, ter cada vez mais certeza de que sua aura benigna de tranquilidade havia criado uma crosta brilhante e graciosa que impedia a chuva de macular tamanha perfeição.

Enfim chegara o momento de sua verdadeira entrada, os portões brancos se abriram como o céu se abre a um santo, e seus pés alados invadiram o piso molhado de entrada de meu prédio. Pela graça do Criador, cada passo parecia um movimento pendular interminável de um relógio antigo que tanto estimo em um antiquário que passo em frente todos os dias. A cada passo tinha a certeza de uma camada de ar ser cortada pelo seu andar reticente e silencioso em direção ao hall de entrada. O cimento frio em que pisava poderia até sorrir em dar passagem a ela, que agora me parecia mais real e plausível a cada passo que dava. Seus cabelos que se encaracolavam nas pontas quebravam-se em suas costas nuas, alguns fios mais rebeldes despencavam ombro a frente.

Sua delicadeza parecia-me tamanha que imagino que até mesmo uma rosa que ousasse beijá-la o rosto cometeria a mais grave das agressões a uma divindade de carne tão real. Arriscaria dizer que talvez o dia tivesse amanhecido triste por ela estar triste também.

Antes de chegar ao meio de seu caminho já me vinha a mente que atitude deveria tomar diante de situação tão marcante e gritante dentro do meu peito, que agora entupira-se de esperanças e vontade de viver. Precisava rapidamente pensar em que faria, gritaria pela janela sem ligar se seria indelicado ou não, apenas com o objetivo de interromper aquele trânsito e permitir-me apreciá-la um pouco mais? Ainda que esta me direcionasse desprezo, afinal de contas não sabia que personalidade estaria ali encarando. Interfonaria e perguntaria ao porteiro para que apartamento aquele girassol direcionou-se com o escopo de tentar afinidade por meio de terceiros? Ou simplesmente calaria-me no silêncio profundo e gratificante das palavras pronunciadas e conteria-me a escrever sobre tal vislumbre por dias a fio, a fim de contentar meu coração apenas com imaginações e devaneios entorpecentes sobre um encontro imaginário em que quatro olhos negros, dois deles escondidos por lentes transparentes, se encontrariam em uma acrobacia surreal de almas que tomariam para si uma a outra para nunca mais deixarem-se?

Realmente a dúvida me comia como mingau quente de solidão, pelas beiradas de minha alma, o tempo que me restava para a contemplação da juventude de beleza interminável, que no momento caminhava a alguns metros abaixo de meus olhos. Não poderia mais perder tempo, nem sequer imaginando ou temendo a personalidade daqueles olhos vivificantes que tomariam de assalto os meus. Precisava imediatamente dedicar-me a ação, até porque percebi que estava cansado de ser um inerte contemplativo da vida que sem muita pressa passará diante de meus olhos.

Subitamente, a chuva tornara-se, em frações de segundos, mais castigante e impiedosa para a beleza dela, tentando dar-me algum recado que no momento corrente não entendera, por me faltar perspicácia e me sobrar estupidez.

Temendo ser maculada pelas rajadas de lágrimas que oscilavam entre o sal e o mel, ela apressou os passos em direção a entrada do salão central do condomínio. Junto com seus pés acelerou meu coração, que no momento ameaçava deixar-me o peito vazio se não decidisse quais das atitudes cogitadas seria satisfeita e cumprida.

Tal situação levava-me a humilhação de me reconhecer um estúpido inerte que nada mais sabe fazer a não ser descrever situações que seriam magníficas caso fossem reais. Não poderia mais permanecer naquela situação, ou estaria fadado a também contemplar a bela vida que o Criador colocara em nossa frente sem me tornar um agente modificador de meu destino. Não me agradaria a idéia de permanecer como silente guardião da beleza da vida e imortalizá-la em palavras sem poder participar, sem poder colher os lírios do campo.

Ah, meu Deus aquela situação serviria, indiscutivelmente, de alento à minha poesia de inúmeras madrugadas do porvir, mas isso agora já não me bastara, sentia-me compelido a agir imediatamente e abandonar a cadeira de apreciador da beleza para tornar-me parte inseparável daquele ser quase que abstrato que agora já quase escapara-me da linha de visão por aproximar-se da escada de entrada e por conseguinte do elevador, antigo e cheio de histórias da minha infância.

Resolvi imediatamente tornar-me independente de tudo que me cercava, reconheci que seria o único caminho para a minha verdadeira libertação em direção à beleza de viver, mais do que isso, resolvi livrar-me de mim mesmo, de meus medos, de planos, de expectativas, de vontades, de indignações e resolvi indiscutivelmente calar-me às possibilidades que conjecturara anteriormente.

Fechei-me a boca, e peguei o elevador.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Um outro Eu


Me dá um frio na barriga ver o papel branco em minha frente esperando de mim letras solidárias com sua completa solidão que não pode ser detida por meros versos um tanto mentirosos de uma imaginação fértil e marcada por tanto sofrimento que hoje em dia tenta vencer.

Penso no papel em branco e limpo que por minha poesia espera como o alimento que espera o animal faminto. Espero deixar-me devorar por um papel em branco, espero entregar-me de corpo e alma para a arte que escolhi defender.

Espero dar-me aos lápis como Daniel foi dado aos leões. Entreguei-me ao ato de escrever como um apaixonado entrega seu coração. Como Dr. Augusto entregou-se a Mila de azul na janela.

Procurei em mim mesmo os motivos para escrever, assim como Rilke me ensinou, procurei a solidão própria, o próprio sofrimento para tentar explicá-lo para mim mesmo, procurei por mim mesmo dentro de meu eu próprio.

Tentei encontrar-me em meio a meus versos de amor, de saudade, de verdade, de solidão, de pureza, de tristeza, de excitação. Fui o mais fundo possível em busca de tentar explicar-me o porquê de ter essa condição que ao mesmo tempo brinda a possibilidade de encantar e transforma-me em um ser que se questiona e sofre com o produto de suas próprias perguntas que não podem ser respondidas, mesmo sabendo que dentro de seu próprio ser as respostas para a sua libertação jazem nos cantos recônditos de sua imaginação e paixão intensas.

Cavei até o último palmo, certificando-me de não haver mais fundos a cavar, cheguei ao outro lado de meu próprio mundo onde encontrei um ser totalmente diferente e com feições brilhantes e doces, tinha meu rosto, mas tão radiante de amor e paz que não reconhecia minha própria imagem confrontando-me. Suas vestes azuis como safira me brindavam os olhos, me dava temor pensar nos porquê daquele encontro tão bendito. Mãos mansas e pesadas, ombros caídos, a barba um pouco por fazer, bem como deixo-me ficar de vez em quando.

Ah, era um ser magnífico, cheio de sonhos, suas palavras eram como o encontro de toda a poesia que eu poderia produzir em toda a minha vida. Suas obras e castelo concretos eram meus sonhos que eu ainda podia ver nas nuvens de minha imaginação fértil. Seus olhos eram tão apaixonados como os meus um dia ainda sonham ser. Tinha em seu coração que palpitava cristalinamente o sentimento poético da paz mentirosa, mas em tom de verdade.

Tinha em suas mãos sujas de tinta, uma espécie de caneta que dava vida a tudo que escrevia, criaava os sentimentos mais bem definidos que eu já tive o prazer de ver, escrevia livros em apenas uma frase. Era o mais sábio dos seres que eu tive o prazer de conhecer e ao mesmo tempo ao invés de usar de palavras complicadas, fazia a todos entender, encurtando a distância do saber.

Sua poesia era tão magnífica que todos poderiam senti-la invadindo o mais caduco dos corações habitantes deste mundo.

Então subitamente ele invadiu-me a mente com seus olhos, tocou-me o peito, baixou a cabeça e fez com que dissesse com sua voz mansa e calma: "eu sou o que você é, ontem e amanhã".

Logo acordei da jornada em busca de mim mesmo, vendo-me em um homem diferente, em minha mão direita havia uma caneta, em meu braço esquerdo estava escrita a frase dita por meu anjo pessoal, pergunte por muitos dias como era possível tamanha coisa estranha ter me acontecido no curso apenas de um sonho. Passei dias indagando-me como me acreditariam. Breve desisti de questionar-me acerca de tudo, deixei de tentar entender mentes que foram tão inteligentes e tão sódidas e foquei-me apenas nas mentes simples e bondosas que um dia já cruzaram meu caminho sem que tenham tido a atenção que mereciam, percebi que a simplicidade na vivência é o que a torna agradável e nos dá o que parecia antes inatingível: a felicidade.

Abri os olhos essa manhã e vi que o Sol brilhava, foi então que eu me apaixonei pela vida.

Apresentação

Iniciar um novo blog é uma tarefa um tanto prazerosa e um tanto dificil. É prazerosa pelas expectativas que se cria do que se vai produzir de novo e o que se vai compartilhar com aqueles que dispõe de parte de seu tempo para lê-lo. É dificil para se saber com que objetivos se cria tal instrumento. É dificil porque talvez realmente seja uma tarefa dificil rotular todo o seu processo criativo do porvir, portanto como já incorri neste erro algumas vezes, dessa vez prefiro arricar dizendo que não vou rotular-me, apenas escreverei aquilo que achar pertinente, talvez ora poesia, ora crônica, ora alguns pensamentos, ora frases. Deixarei livre o pensamento para que acontecer de forma natural e humilde, como toda arte deve ser.
Que eu possa de alguma forma acrescentar e facilitar a edificação de muitos e que possa permitir que muitos componham a minha edificação, afinal de contas esse deveria ser o único objetivo pelo qual se escreve e se compartilha seus escritos: para que somem ao mundo de forma abundante em seu conhecimento e em sua libertação através da verdadeira sabedoria.