terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Dança da Fuga


Quando todos os âmagos parecem triturados,
Reluzindo sua dor em tom âmbar.
E todas as almas em uma dança de fuga,
Temendo a paixão de qualquer coisa.

Quando os infinitos se cortam em um som seco,
As paralelas se desmontam em som doce
E as flores desabrocham na doçura das tuas curtas e retidas palavras.

Quando o tempo esfria pelo mistério dos teus olhos quando se ausentam,
Os pisos perdem o polimento com a tua partida
E os perigos que causas cessam e a vida pacata volta a sua solidão.

Quando as vigas da edificação da razão perdem a razão com a tua vergonha
E o teu rosto inteiro se abre em sorriso que assombra a mais bela das melancolias.

Aí, coisa linda!
O mundo passa a temer a sua própria tristeza.
O ar enobrece e o alento primário dos homens parece valer a pena.
Os corações se entregam em derrame de honestidade.
As mãos imediatamente se procuram.
Olhos em perseguição.
A vida parece, mais uma vez, ser possível.

Paulinho Tamer
05/12/2012

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Soneto do amor imortal.

A beleza anuncia a tua chegada
Percebendo-te no Sol da alvorada
Se desfazendo em meu triste lamento
Por notar teus olhos em sofrimento.

Sempre importa a natureza da trama
Te confesso, as vezes, por puro desejo
Contemplo teus olhos em mar de chama
No salgado e na dor do teu lampejo.

Me fascina o teu amor desprendido
Fito teus olhos como o de um bezerro
Que espera por assim ser recebido.

Através de ti tudo nasce e mente
Até me arriscando a dizer em erro
Que tudo, morrendo em ti, é semente.

Paulinho Tamer
03/12/2012

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Foco


Quem então
Levantaria do sepulcro das constelações
Uma dúvida acerca dos teus olhos gulosos
Que ingeriram todo o brilho esfumaçante
Das estrelas que jazem mortas e reluzentes?

Pouca inspiração
Não aflige as reais razões do meu escrever

A explosão de idéias que a tua pele me inspira
É tão fascinante quanto um universo que se cria e se dobra
Que se alimenta de si mesmo
E se auto-sustenta

Toda essa forma com que teu sorriso
Estica olhos em alegria
E faz bocas tocarem orelhas
É o que inevitavelmente
Inspira toda a realeza
Dos devaneios poéticos

Essas coisas que te escrevo
Sem falsa modéstia
São pobres
Ínfimas
E inúteis
Quando comparadas com a sutileza com que teus olhos
Disseminam versos no ar.

O teu sorriso reverberando pelas paredes brancas
Ou da cor que queiram tomar
Atordoa os ouvidos mesquinhos
E derrama paixão no ouvido que te quer

És a aventura que livros tentam aumentar
A verdadeira natureza do espontâneo
E a franca mentira dos destinos pacatos
Porque tudo em ti grita
Tudo em ti compõe ambas as partes do todo
Tudo em ti, principalmente, acaricia o medo do fracasso
Antes de devorá-lo

Retumbante quebra de paradigmas
Contraditório comportamento teu
És projétil de absoluto
Mas vejo a dúvida em teus olhos foscos
Sufocando o que deveria ser livre
Dando grilhões ao permitir-se
Ao entregar-se

Ah, coisa linda
Tu és o conceito e a figura do que se conhece por liberdade.

Luizinho


Meu amigo,
Todos os dias passam
Com as horas vorazes e velozes

Todas as distâncias permanecem
Todas as paredes mantêm-se de pé
Todas as circunstancias
As vezes
Continuam contrárias

Mas algo vive,
Permanece
Revive
Ressuscita
E renasce

A eterna lembrança
Da infância incomum
Dos interesses comuns
E da discrepância dos espíritos para com os outros

É meu jovem amigo
Eu sou mais velho que você
E você mais velho que eu
Homens velhos em quereres
E jovens em transcendência

És lembrado por mim
Com o carinho de um livro antigo
Com o bem de uma nova ideia

Por quantas vezes penso em profunda análise
E tu sempre me vens à mente em belas palavras
Em uma poética que nasce da nossa amizade
Da vivificante experiência do saber existir

És tão imenso em mim
Tão contemplativo
Tão peculiar
Tão detestável
Tão estúpido
Tão sabido
E tão idiota
Tão grande
Um verdadeiro gênio
Que por todas as provas em contrário
Minha cega admiração continuará fruindo

És um grande presente
E um honroso passado
Não permitirei ausentar-te de meu futuro

Meu amigo
Meu confrade

Meu Luizinho.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Gravura


São caracóis de dúvidas os teus cabelos
Invertendo a polaridade de todo o chão da minha natureza
És bela nos teus desajeitos ou nos teus mal jeitos
As tuas expressões nem sempre convidativas
Mas que sempre me gravitam em tua direção

É inominado o que minhas letras sentem por ti.
Elas se afeiçoam e emburram.
Me deixam como menino pio
Ao se sentir o dono do mundo quando em cima de uma mangueira

Teu âmago aleitado como tua pele
Escreve no espaço por teus dedos musicais e misteriosos

Penso em ti como penso em mim
Como as letras me saem por cada poro
Tuas cores e curvas brotam das tuas palavras.

Me impressiona decifrar-te na tua beleza e inconsistência,
Na gravura que teus ombros deixam ao passar,
Pois tu te perpetuas nos espaços lidos por meus olhos,
Vendo teu existir desenhar-te nas rodas vivas.

Como pôde natureza tão ingrata compor-te em tamanho silêncio?
Como pôde mundo tão racional forjar-te em tamanha emoção aos homens?

Aqueles que te vêem
Sem perceber sua sorte
São como marinheiros que não reconhecem tesouros,
Desbravadores que não sentem em seus pés a maciez da terra nova,
Palhaços que deixam passar o instante da piada.

És assim,
Um instante que quase não pertence ao presente
Que sempre deixa a sensação de algo que não foi inteiramente aproveitado

Negas as expectativas.
Mas como podes?
Se seres como tu
São a representação viva da esperança e do que se pode esperar

Mas é assim:
Tão enorme tua fonte
Tão curto o momento
Tão infinita tua poesia.

-Paulinho Tamer
29/11/2012

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Meus olhos dançam contigo


Branca e de beleza latina
Balançada com maracas e chocalhos.
Ritmo de quadris balançantes
Mente inebriante

Os olhos fixados nos quadris próprios
És Joana, Maria, Rita, Celeste
Todas em ritmo suado e embriagado

Refratadas nas palavras desidratadas
Pelo suor levado ao chão de madeira antiga
No clima árido da música e do álcool a que te entregas

Feita e refeita na tua pele de cera
Nada cubana, nada boliviana
Caucasiana e europeia
Com a cintura e a mente de Bolívar
Repousadas em pernas que se movimentam

Feições fixadas no transcendente da música
Olhar para cima com a noite escura e quente
Cabelos negros e esvoaçantes com tambores africanos
Cumbios e mulatos

Olhos de infinito gravado em minhas costas
E que me bombeiam o sangue dos olhos
Buscando o encaixe das batidas das nossas almas.

-Paulinho Tamer
24/11/2012

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Menina da Garoa

Eu pude te perceber melhor
Olhar as leves ondulações do teu cabelo
Que cai lenta e vergonhosamente

A tua pele carrega algumas marcas
Marcas de um passado poente
De uma tristeza agora latente

Mas teu sorriso jaspeia meus olhos
Os quatro olhos do poeta-palhaço

Sim, teu sorriso causou uma leve dor
Em cada entranha de todos os meus seres
A dor que leva ao percebimento da vida

E quando a tua boca se abre em raio
Todas as coisas permanecem imóveis
Paralisadas pela mordida da tua beleza

E teus olhos explicando algo de surpreendente
Se arregalam na seriedade inebriante do teu semblante
Como ventos partindo tempestades

És mesmo uma tempestade
Uma tempestade de motivos, fatores, causas, consequências, dores e beijos
Uma tempestade de sorrisos, tempestade lunar inexistente
Tempestade das tardes mortas de domingo.

De repente, os mesmos olhos grandes e convincentes
Se retraem na desnecessidade da tua vergonha
Fogem de mim
Escondem-se atrás do reluzir dos teus dentes
Que é causa da contração graciosa e delicada das tuas feições
O Sol que se esconde atrás do Sol.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Menina de Cinema

Eu te conheci em acidentes e bares
Em desconfortos da cidade vibrante
E o meu aguçado senso de investigação
Julgou-te mal
Percebeu-te erroneamente

As tuas feições me pareceram calmas e inexpressivas
Sem as fortes opiniões necessárias à ignorância construtiva
Uma mulher pouca em tudo, insuficiente

Mas na verdade o teu mistério se maquia em pequenez
Qualidade e características não dos miúdos, mas dos gigantes

As feições que parecem calmas,
Revelam as guerras das tuas contradições
O copo que cobre quase todo o teu rosto
Não é por vergonha
Mas por puro convencionalismo

És mutante
Mutante flexível às imaginações, às pessoas
Às condições, as proporções, aos sonhos
Te apequenas e te agigantas de acordo com a tua vontade
E isso é muito,
Porque os grandes são poucos
E os poucos são muitos
Mas possuis a magia e brutalidade de ambos

És mais que atriz,
Vives a arte do filme da tua vida
No drama e comédia dos teus olhos
No suspense e terror das tuas mãos amigas
No conforto e fantasia do teu abraço calmante
No documentário das tuas palavras mansas
Na ficção das historias contadas pela tua boca
Na infantilidade dos teus pensamentos
Que são ora recém-nascidos e ora matusaléns
E na independência cinematográfica dos teus atos

Não és nem um pouco poética
Talvez por isso tenha demorado tanto para escrever-te
És sim, artística
Pois teus jeitos e posições são rabiscados, esboçados, pintados e expostos
És a galeria da minha alegria
Um ser escondido atrás de telas
E protegido pelos meus versos
Que te guardam e te absorvem pra mim
Queria eu ser pedaço teu
Para o poder viver a guerra com tanta calma

Sim, és a equivalência de forças na curva dramática do filme da vida
Meu orgulho e meu juiz

Nenhum homem tem mais sorte que o poeta que te escreve
Pois qualquer um pode te ter de acordo com a tua vontade
Mas eu te possuirei sempre dentro de mim
Guardada e com o teu sono sincero velado
Ainda que contra a tua vontade

Com a tua mansuetude abriste a porta do cinema
E deixaste a arte sair da sala e invadir a vida.

-Paulinho Tamer
13/11/2012

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Vai e vem


A doce harmonia que deságua no desespero
A agonia dos corpos nus, dilacerados, contorcidos
No doce deslinde da paixão.

O sacrifício das purezas, das inocências
Em prol do unir peças em pura vida
No quadrante deslocado dos olhos embriagados

Pois o corpo mareja nas mãos, nos olhos
Pelos poros guarnecidos de movimento
Pois foi assim que saíste de mim
Como um resto
Como o dejeto do que já fora consumido

Arranquei cada pedaço de pele teu colado em meu âmago
Prostituido pelo teu egoísmo sincero e brilhante
Agitado pelo embalo da tua triste vontade incontornável
Que desmonta um monumento de paciência

Tirar-te de mim deu-me mais prazer do que enxertar-te em minha vida
O amargo de perder-te é mais doce que o de ganhar-te

Suei-te de mim,
Como um desintoxicar de alma
Como um purificar dos olhos refreados por dor
Como um expurgo de paixão que não cabia em mim

-Paulinho Tamer
08/11/2012

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Salto ao solstício


São os teus olhos espremidos pelo sono
Ou as sobrancelhas que delineiam a beleza vasta da tua graça
Ou seria a forma dos teus dentes que reluzem no barro de solidão da tua boca
Poderia ser a forma um pouco vulgar e clichê das curvas do teu pescoço
Ou inclusive poderiam ser as cores dos teus olhos que emanam uma espécie de poesia italiana
Cheia de lagrimas, remorsos, alegrias, regozijos e o brado do teu belo.

Eu te observo sem que saibas
Vejo na tua pele em cera
A cultura que a mim não pertence
Alcanço nos registros de tuas movimentações pelo tempo
A calma e a arritmia dos versos que transpiras.

É, meu bem, nasceste poética
Em rubro desejo dos versos latinos

Teu corpo se comporta como pena
Pintando, escrevendo, riscando, gravando, gritando
No papiro da vida os versos sufocados pela falta de olhos alheios

Mas meus olhos são teus, te decifro, te busco
Nos números dispensados das aulas
Nas formulas sensatas ou irracionais das poesias
Procuro tua forma no embalo dos sonetos que saem do teu caminhar

Estás longe de ser Alexandrina, longe da forma exata
Longe de ser inteiramente decifrada por mim
Iniciei agora o desvendar do teu enigma

És poesia ambulante,
Que cria, nasce, cresce, marca, morre, vive, canta e recomeça
A forma como tornas o corpo tem a letra dos mares chorosos, azuis, e negros
Em tuas mãos perfumadas e pálidas repousa o barro da minha construção
Que tenta esculpir-te, dar-te a forma dos meus sonhos.

Que forma tem meus sonhos?
Tomaste de assalto a imaginação de um poeta
Agora todos os meus versos te seguem como fogo-fátuo de inspiração

Ah meu bem, quando me apareceres em pessoa
Serás o solstício da minha vida
Quando a luz estará bravejando em teimosia
E não deixará de existir antes que queira
Sem respeitar qualquer ordem natural
A pura rebeldia das forças que evocas.

És colheita e plantação dos sonhos das minhas palavras.
És o negrito e o sublinhado dada a parte mais importante de um verso
És onde os olhos devem repousar e não mais perceber o mundo em volta.

-Paulinho Tamer
30/10/2012

domingo, 28 de outubro de 2012

Festa da vida


Grande o homem é em reconstrução
Tijolos e massas em emoções decaídas
Reverberando na alma o som de uma tristeza indecente

A calma já não me pertence
Nem o desespero me assola
Em estado sem sentido, sem conceito
Sem a definição de uma construção
Pois as mãos suam quando surge a necessidade de definir-me
E os domingos suicidas parecem começar a fazer sentido
Aos olhos pobres do homem ainda cheio de vida
E ainda há muita vida pelos ares externos à minha caixa de aflição

Há muita vida para desistir da vida
Pois a vida, assim como o coração do poeta
É sem definição e sem possibilidade de mensuração
A vida é sempre enorme e é vida, ainda que pouca.

-Paulinho Tamer
27.10.2012

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Verdade Primeira

Investigo-me a consciência.

Livra-me do amanhecer, noite das dúvidas.

Reforma-me em sons agudos e timbres harmoniosos.

Ah, dúvida dos homens,

Construam homens sem dúvidas.


Questionar-me em minha guerra

É realizar-me de paz e verdade

E encher-me do terror do conhecimento.

Conhecer dá medo,

Mais medo é não conhecer o medo.


Paz ou guerra?

Escolho ambas como minha cama.

Estar em paz por conhecer,

Estar em guerra com o revelado.


E assim me sinto em campo,

Em uma paz em estado permanente

E uma guerra em estado latente.

A guerra dos homens é não conhecer,

A paz do espírito é não conhecer a ignorância,

Apenas a calmaria da verdade.