terça-feira, 13 de agosto de 2013

الأميرة من لبنان (keal amir ami Libnen)



Com escalas ininterruptas
Se vai o que ainda não estava
Me deixando e acompanhando
Permitindo e cerceando

O branco da tua roupa
Reluzindo suspenso nas palafitas que te apresentaste.
Entre os cigarros,
As tintas do teu corpo me convidaram
A algo atrapalhado dos teus movimentos,
A algo simples do teu imenso sorriso.

Tu me mostraste o instinto,
Eu te dei sonhos e fatos,
Foi assim que os astros que acreditas nos permitiram fazer.

Nem a tua fuga, nem a tua velocidade,
Nem a tua partida repentina, nem o dia que se passou,
Nem o rio, que por dois dias esteve abaixo de nós,
Impediram de plantar-me em estranha condição,
Em te esperar como quem ninguém tem
Ainda que cercado pela multidão.

Logo a fita que escorria pelo teu cabelo,
O teu vestido colorido
E a vergonha no rosto cansado de tanto humor
Fizeram meus olhos, firmes e racionais,
Se amansarem como o vento
Que repousa na madrugada
E se reacende na alvorada.
Perdendo o brilho, todo tomado por ti.

De repente minha terra se torna tua terra
E o céu que pintas é o mesmo que encomendo,
O mesmo que te planejo em qualquer noite.

Migras da praia ao frio pela nossa semente
E eu pago, ya habbib, eu pago o preço.
Pago o preço da distância, ainda que momentânea,
Pago o preço dos quilômetros,
Pago o preço da terra imensa e do céu interminável
Porque perto de ti e dentro de nós tudo é suficiente e válido.
Os meus lábios, corpo e pensamentos tornam tudo perto.
Teu carinho e dedicação tornam tudo fácil.

Com o peito apertado e a respiração paralisada
Dirijo-te os versos que a saudade me trouxe,
Que teus olhos e frases em algum momento me inspiraram.

A tua beleza,
A tua essência, sabor e sentido.
 Os versos depositados no teu aroma,
As luas borradas que tentei te dar
E as nossas mãos que permanecem atadas
Me fazem carregar-te
Não como quem te transporta,
Mas como o símbolo que me deixaste ao redor do pescoço:
Como um elo interminável.

-Paulinho Tamer
13/08/2013

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Água

O início é como a gênese: escuro e desconexo
E ao caos tua pele comanda ordem.
Compelindo os dedos a escrever
E os versos e frases a se derramarem no frio papel.
Dando revoada às letras.

Os olhos que pousam lentamente a mesa,
Que descansam no senso da vergonha
E orgulhosamente tentam mostrar o absurdo ao a olhar para o alto.

A luz que revolta-se em focar,
Preocupa-se mais com cegar, dopar, paralisar.
As retinas e pupilas que agora olham através de lentes,
Eternizando o sopro de calma de cada segundo
Como se o segundo por si só já não fosse sereno só por tê-la.

E quando olhos dementes feriram sua estima,
Os faróis do mundo se apagaram,
As verdades são suposições,
Os olhos que alvoreciam a alma dos poetas
Tornaram-se o anoitecer da vida a seu redor.

Mas o cheio não torna-se vazio
E completo não pode ser fração.
O sublime não pode descer ao belo.

Tua beleza não pelo preço de um copo levantado
Mas pelo preço de tinta e corpo, meus.
Teu humor não pela mísera hora da noite.

E descrever a tua maneira de levar o copo à boca
É suportar o peso de traduzir obra de arte nunca terminada.
Porque pelo teu tom e pelo teu toque tudo se inaugura de novo.

A ironia do refrão é que nada disso te faz sentido.
Conheces o teu pequeno poder de apagar ,
Sem perceber a enorme naturalidade com que podes escrever, gravar, eternizar.
Assim como te eternizo agora
E como ainda te farei imortal outras vezes.

E é o teu senso de imortalidade que falha
Não percebes que ao redor da tua palavra
Tudo se torna imortal
E o tempo hesita em passar.

És assim!
Mesmo que não queiras,
Mesmo que insistas no contrário.
O que é teu não podes abandonar
E as tuas mãos produzem a luz diária
Ainda que prefiras o gelo, muito gelo.
E com pouca água, por favor.


O imortal em ti é toda a peculiar maneira como exalas poesia sem saber
E sem querer.

Aqui, no último verso dessa serena prece de um poeta,
Te mantenho gravada entre as letras,
No último suspiro que precede o sono
Não te dei a morte que te fizeram acreditar ser parte tua,
Te dei vida eterna,
Talvez borrada e manchada por meus olhos as vezes turvos,
Mas ainda clara enquanto durar o embalo do teu respirar.

-Paulinho Tamer

13/06/2013

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

VeRde


O meu corpo observou e viu apenas os teus olhos
Claros e calados sob a luz calma do ambiente
Era meu corpo, cadeado, colado ao teu
E dançávamos ao ritmo dos lençóis suados

Eu habitei debaixo da tua pele
E por dias fui quadro pintado em tua íris
Fui acolhido por teu colo
Te dando meus braços como teu manto
Meus olhos baixaram no delírio das nossas horas juntos

Tua companhia, estado imune, me é fatal e fatalista
Eu morro a cada minuto que minhas mãos tocam a seda da tua pele
Eu morro a cada minuto que meus dedos tocam teu rosto
Eu morro a cada minuto que tua saliva ainda repousa em minha boca
Eu morro a cada minuto em que eu me permito viver.
És a completude da vida
Onde morro para estar constantemente nascendo.

As mãos aos poucos escorregaram
No suor das nossas tribulações
De repente, algoz do destino,
Fui violentado pelo mundo,
E foste-me arrancada, roubada, tirada, raptada, furtada, escondida,
Trancafiada na crueldade das armas
Enjaulada pela doença do egoísmo
Pela posse desnaturada, imatura e degenerada dos homens.

E o teu ballet vai sumindo dos meus olhos
Como a mansa nuvem que a minha infância um dia observou
Minha mágica caixa de música foi fechada
A bailarina foi escondida sob a sombra da insanidade

Sim, eu perdi.
Tudo me foi tirado dos olhos
Mas teus olhos continuam gravados no meu braço
E teu ritmo continua incessante em cada respiro.

-Paulinho Tamer
08/02/2013

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Manifesto do Palhaço


Ele se lacrou em versos rubros
Se violou em seus próprios versos de vergonha
Nas suas imaginações de sobrevivência
Nas suas más ações
No seu egoísmo altruísta

Evasão rápida e conclusa
Nada aqui muda
Nada aqui cala
Nada aqui se aquieta
Tudo aqui se acumula

És meu pai, meu deus e meu escravo

Derretendo mentes e corações
Ele conquistou as ruas, os olhos claros e escuros
Negros, jabuticabas, verdes, azuis, melados em suas rimas e ritmos
Ele é o rei das minhas letras,
De meus dedos
Que marcam brandamente as teclas da velha maquina datilográfica

Agora ele é um cofre
Moribundo e fétido
Que arde em suas emoções reclusas
Nas sombrias passagens das almas
Ele é menino mendicante
Com fome e só
Fugindo de todo Sol, do todo lar e de toda bondade

Vomitando em si mesmo o ódio que se reservava no coração lírico
Sim, ele é seu próprio alvo
Quer o olho do touro em sua ira

De tanto doar o doce lhe restou apenas o amargo do asfalto
E eu assisti e assisto tudo
Com ódio nos olhos, com amor no peito
Com tudo que me é
Ele é e eu também
Eu o sou e ele me é
Sou ele, ele sou eu.

Ele precisa me pintar a cara,
Me vestir de seu herói,
Me ninar a cada noite em que a fúria me domina
Me adoça com suas metáforas.

Limpo lágrimas, sangue e tinta.
Limpo letras, limpo sua língua com agua quente e olhos negros

As petecas da minha cara são as mesmas da dele

Sim eu vou higieniza-lo na sua própria obra.
E nesse momento de dor e torres altas
Eu lhe lançarei os laços da minha farda
Protegerei seu coração de poeta em meu rosto maligno de divindade.

Sim, o poeta se lacrou  seus porcos imundos
Seu mundo inútil
Sentireis a ira das minhas formas macabras
Sim, o Deus-Palhaço volta e toma o mundo de assalto.
Firam meu corpo mutilado por suas amarguras e mediocridades
Atirem em mim as balas egoístas das suas filhas, das suas amantes.
Passem por cima de mim com suas coisinhas miúdas guardadas no saco velho e furado da sua honra.

Traíste o teu maior aliado,
Aquele que mais te amou
Que mais te quis e que mais te fez apaixonar.
Agora eu sou o que lhes resta por enquanto.

Sim, não mais versos de boca suave
Agora apenas líricas de um coração espinhoso
De uma língua que berra ao invés de cantar

No meio-dia das vossas vidas lhes tirarei o sombreiro
E vou expor seu couro imundo ao Sol que vos  crucificará
Permitirei que mesmo a Lua vos queime com minhas expressões letais.

Não vos darei a compaixão
Foi com ela que apunhalaste o poeta que agora se esconde
Lavarei a alma do poeta com as suas lagrimas
Com suas lagrimas expostas pelo orgulho agora desnudo
Pelo vosso preconceito agora a mostra
Pelo vosso hálito de dor
Quando até vossas orelhas esquentarão no inicio do tormento

Vos darei apenas os olhos do juiz,
Só recebereis de mim barras e não mais chaves.

O poeta pintou a minha cara com seu amor
Agora eu limpo a dele com a dor em que fui forjado.

-Roquentin. (Sim, o palhaço)
31/01/2013

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Farol


Teu corpo marcado e findado
No alvo das estrelas que nem sempre aparecem
Teus olhos cravados com as esmeraldas da coragem
E o pequeno corpo frágil de cordeiro, caça.

E os teus dedos e movimentos
Percorrendo o amago da nostalgia das horas
Fadadas a te louvarem a cada segundo da tua curta e imensa vida

És a frustração dos corpos celestes
Encobertos pela fumaça dos homens

E a tua mente se entorpece

Teus olhos diminuem o farol da tua atenção
E teu amor se entrega pra mim
Em estado absoluto de espirito

Afinal, cruzaste terras e naturezas
Em ambulantes pássaros, teus fieis
E os ventos te trouxeram pra mim
No cuspe do destino que não existe
No colo do imaginário
Nisso que os pequenos chamariam de sonho.

No teu templo que habito
Percorro minhas coragens e virtudes
Te entregando a felicidade das letras

Minhas poesias são agora tuas
Minha mente compõe em tua homenagem
Na homenagem do pequeno poeta
Diante da franqueza da tua beleza.

O espaço se contrai com as tuas passadas
O mundo reverencia a forma como tua pele se marca
Ou como marcas a pele tingindo a alma.

Perseveras em minhas letras
Como teu amor persevera em mim
Sem cessar a necessidade mutua
Que sente o alvo das nossas mãos
De procurarem umas as outras
Em uma dança de chegada e regresso.

Me abrigaste em teu infinito e celeste amor
Eu te eternizei no negro dos meus olhos
E nas letras e palavras que desenham minha alma, tua.

-Paulinho Tamer
09/01/2013

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Pequena Dançarina


Pela primeira vez eu senti a necessidade de um clima são.
Senti as pupilas desejarem nada mais do que o são papel,
Senti os ouvidos não ouvirem nada mais do que o são silêncio,
Percebi o corpo sentindo a necessidade de todo o espaço possível
Sem interferências de corpos no mesmo espaço.

No meio do turbilhão da noite,
Guardado eu em meu armário,
Cercado pelas paredes tortuosas do destino que esculpi.

Abstive-me da solidão e parti.

Os meus olhos chegaram despretensiosos
Em ambientes tão familiares, com belezas tão comuns.
O piso era o mesmo,
As paredes da mesma cor,
As caixas dos corações lacrados continuavam encadeadas no ordinário.

Nem o ar era surpreendentemente novo,
Nem mesmo as janelas estavam em ângulos diferentes.

Brotaste do extremamente ordinário, do comum, do nada novo.
Com os quadris repousados em tapete vermelho barato
E todas as outras coisas sem beleza.

De imediato meus olhos captaram a tua beleza.
A beleza que partia da luz de todas as tuas formas.
Beleza partida, e em partida,
Iluminando humildemente o que poderia ser ofuscado.
Tuas retinas e tuas coisas eternizando o que houvesse ao redor.
Dando de si e tomando dos outros.

A voz mansa que quase não respondia a estímulos
Caminhando lindamente como sobre corda bamba,
Tocando os cantos emadeirados,
Dirigindo sua beleza pra tudo que não importava.

Na tua pele alva eu vi os riscos do que ainda te restava de ti mesma.
Foi quando os olhos apertaram e entenderam porque a tua pálida beleza.

Tiveste tua beleza violentada
Pelos vis inimigos do que és: transcendente,
E teus olhos, faróis, se borraram no espelho,
No lago que afogaste narciso também te afogavas,
Com tantas dores, com tantos motivos.

Eu te quis pra mim de imediato.
Te quis ressaltar tua digna beleza,
Tirar a luz do teu sol do inverno das tuas lembranças
E trazer à primavera dos meus braços.
Nos meus braços.

E o teu sorriso se abriu.
A felicidade brotou dos teus rubros lábios,
A tua beleza hoje grita e ordena,
E a cada vez que teus dentes se mostram
O tempo emudece para ti
Em um solene gesto de reconhecimento da tua grandeza

Hoje teu sorriso não vem mais do amarelo da boca
Mas do verde dos teus olhos.

Vejo o banho que tomas em plena caminhada
A higiene da tua beleza que meus negros olhos que te observam.

As ideias com tanto ritmo quanto teu corpo de pequena dançarina
Hoje saem de ti aos berros
E a luz fosca que antes vinha da tua cabeça,
Hoje vem vibrante das tuas entranhas,
De tudo aquilo que mais és.

E o que és?

És o repositório do mundo,
O santuário onde tudo se redime
E onde a beleza se ajoelha.

Tens o gosto de carne santa,
Onde toda a minha poesia se alimenta,
Pois o teu toque cura tudo em que falte arte,
E para tudo o que queira correr.

Ah, benzinho,
Vês em mim beleza
Enquanto eu quero apenas te mostrar o espelho.

És a magnitude das inspirações,
De onde minha poesia não mais precisaria de outra fonte
Senão te ter em mim e pra mim.

És a ganância negada às flores de terem todo o belo,
Pois tua pele, teu corpo, teus olhos, lecionam ao imortal
E o imortal que tentas captar está do outro lado da lente.

-Paulinho Tamer
01/01/2013