sábado, 8 de outubro de 2011

Homem, Mundo

Ah, Deus

Me orgulho dos vastos céus sem azul

Dos mares agitados e sem piedade

Das terras chacoalhantes e indignas


Me orgulham também as flores mansas e inocentes

O asfalto negro e resignado

As arvores que questão nenhuma fazem de se mexer


Assim me regozija a paixão

Sem calma nem paciência

Sem imagem nem decência


Da mesma forma o amor

Paciente e desprendido

Sem avidez nem possessão

Lento e etéreo como os ventos


Somos seres como a natureza

Violentos e pacíficos

Ingratos e agradecidos

Subjugados a dor e a alegria

Eivados por esperança e desespero.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Versos em Luz

Na solidão temporária
Avalio cada pedaço da minha dor
Derramada em lamento
Esperando pelo céu que se enegrece
Tornar-se mais uma vez claro

Observo como o Sol
Lentamente banha o mundo de um calor suado e confortável
Imaginando um conforto e sonolência
Tão necessários à pacificação do meu espírito
Quanto o sangue é necessário ao corpo

E a minha natureza se desfaz
Em pedaços miúdos caídos ao chão
Me separando de mim mesmo
Permitindo a cada pedaço da minha dor
Pensar por si só

Esbravejo pelo meu despedaçar
Grito de dor sufocado
Sem hálito e respiração
Sem bocas abertas ou cabeças baixas
Apenas olhos molhados
E coração encharcado de saudade

Que a razão me invada e me reconstrua
Em minúsculos pedaços de fé
Em inúmeras partes de esperança
E em infinitas partes de amor.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Versos de Clara

Fácil falar do amor em dor

Em pêsame

Em perda

Em separação


Mas teu amor em mim

Se mostrou mais que tudo

Mais que um dom

Mais que uma memória

Mais que um professor


Caminhando pela seara do meu desconhecido

Contemplo minha razão

Meu troféu solitário

Em completa balburdia

Em decomposição


Substituíste meu frio pensar

Pela alegria dolorida da emoção

Pelo amanhecer do meu amor por ti


Ainda inclino a cabeça para ver-te

Como o lobo que se curva para ouvir o vento

Freando meu pensar

E dando força ao gatilho do que me infesta

Ao refeitório lúcido do meu amor


És minha refeição

Meu pão diário

Aquilo que não pode me faltar

O incisivo golpe que cega

E a soberana ordem que dá vida


És o nascer e o renascer meu

O intuitivo modo de abrir os olhos

O involuntário ato de respirar


És um verso claro

Límpido e transparente

Que parte de mim

Da minha boca

Das minhas letras

E toma o mundo com a autoridade da tua beleza


Ah, meu bem

Te vejo como a flor

Que não padece sob o outono criminoso

Te vejo como a morte de todo ímpio

Como a extirpação de toda a minha iniqüidade


Me permites equilíbrio,

Sobriedade e felicidade

És meu começo e minha metade

Minha fartura e minha falta

Minha luz e meu pensar


És o beijo do vento em meu rosto

Meu amor em paz composto

Minha fatia de divindade

Teu amor por mim me invade

Me toma e me agracia

Me permite o sacrifício dos meus erros

E a premiação dos meus acertos


É o coração jovem que bate ruborizado

Em plena atividade de vida

O organismo que nunca padece


És parte mulher e parte inverno

Parte menina e parte calor

Parte de mim e parte de tudo

Pois parte de mim para ti

Meu amor, meus versos, meu mundo.