quarta-feira, 1 de junho de 2011

Lavoura

Eu quero dar-te a flor do tempo

Não para que a vejas florir

Mas para que admire o seu perecimento

Perto da tua carne, perto do teu sopro.


E no convite da beleza dos ponteiros

Possas ver-te refletir no relógio parado

Nas válvulas quebradas

Do motor estático

Que perde sua força motriz.


Fechas os olhos e tudo se esvai

Abaixas as pálpebras

E me presenteias com o gelo das horas

Assim te fazes: guardiã dos absolutos

Aquela que desvirtua os mutáveis

Que violenta meus horizontes

Que me dá a poesia

Vivida, chorada, cantada.

Mas não escrita.


Eu vejo que não gostas de poesia

Mas tu, para que gostar?

Transpiras fermento da mente dos poetas

Fertilizas a semente das imaginações

És o irrigar das inspirações.


Te tornaste a lavoura dos meus versos

Onde o trabalho é minha religião

E o colher é meu cristo


És uma presa

Inalcançável ao instinto predatório

Inestimável a tua matilha que és tu mesma.


Passeias pelos vales dos meus olhos

Onde o seguir-te não é opção

Onde o querer-te não é voluntário.


És um verso torto e sem rima

Eivado de beleza ferina

Onde a tua cor castanha

Divina e humana

Faz de meu amor por ti, doce criatura

O mais belo bem libertador.

Paulinho

01/06/2011