quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Gravura


São caracóis de dúvidas os teus cabelos
Invertendo a polaridade de todo o chão da minha natureza
És bela nos teus desajeitos ou nos teus mal jeitos
As tuas expressões nem sempre convidativas
Mas que sempre me gravitam em tua direção

É inominado o que minhas letras sentem por ti.
Elas se afeiçoam e emburram.
Me deixam como menino pio
Ao se sentir o dono do mundo quando em cima de uma mangueira

Teu âmago aleitado como tua pele
Escreve no espaço por teus dedos musicais e misteriosos

Penso em ti como penso em mim
Como as letras me saem por cada poro
Tuas cores e curvas brotam das tuas palavras.

Me impressiona decifrar-te na tua beleza e inconsistência,
Na gravura que teus ombros deixam ao passar,
Pois tu te perpetuas nos espaços lidos por meus olhos,
Vendo teu existir desenhar-te nas rodas vivas.

Como pôde natureza tão ingrata compor-te em tamanho silêncio?
Como pôde mundo tão racional forjar-te em tamanha emoção aos homens?

Aqueles que te vêem
Sem perceber sua sorte
São como marinheiros que não reconhecem tesouros,
Desbravadores que não sentem em seus pés a maciez da terra nova,
Palhaços que deixam passar o instante da piada.

És assim,
Um instante que quase não pertence ao presente
Que sempre deixa a sensação de algo que não foi inteiramente aproveitado

Negas as expectativas.
Mas como podes?
Se seres como tu
São a representação viva da esperança e do que se pode esperar

Mas é assim:
Tão enorme tua fonte
Tão curto o momento
Tão infinita tua poesia.

-Paulinho Tamer
29/11/2012

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