quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Um ato de fé

É assim que o mundo é
O mundo é o lado de cá das grades
A prisão é escolha, meu amor
O cárcere é uma mentira que te contaram um dia
Sofrimento sempre liberta
Temer o sofrimento é temer a possibilidade de ser finalmente livre dele

É meu bem são tantas coisas que as minhas letras querem te dizer
São meus dedos que te procuram no vão do vento
É minha boca que se morde e se mutila, tentando laçar a tua
No espaço indefinível em que ficamos

Não sou grade
Sou asas
Não sou horizontes
Sou o além dos olhos
O além da vida
O além de tudo

Fitaste o meu maior desafio
Com o teu fito
Findou-se meu conflito
Sofrimento que me rompeu grades

Observo agora tua dúvida graciosa
Que irrompe em risadas pelo vazio
Tão belas quanto os versos da tua coxa

A tua dúvida me faz debruçar minha atenção sobre teus movimentos
Analisar com água na boca toda a tua meninice
Enfim o poeta dos rodeios
Liberta-se e dedica-se

Não temas a verdade
Nem a dúvida
Nem a mentira
São partes nossas, tanto quanto nossa graça

Não tema, meu bem
É ainda muito cedo para que teu coração se parta
É ainda muito cedo para que teus versos sucumbam
É muito cedo ainda pra que proves o salgado da tua lágrima

Um dia nos contaram que a vida é doída
A vida dói em quem tem medo da dor.

És paisagem sem sombra
Sem possibilidades de falha
És incapaz de defeitos

Evitas algo que não te alcança
Algo que por tua natureza transcendes

És poética em teu sorriso
Em tua fala
Em tua fuga

Foges do tão menor que tu
Do sofrimento que arrebata tão pouco
Que machuca o sufoco

Subliminar em tua prece
Escondo-me a teu lado
Para escutar teus desejos
De ser livre de ti mesma
Como eu um dia não fui

Pintei teu corpo todo com meus versos
E os borrei no molhado da língua
Eternizando-os em nossa pele
Em nossa carne
Em nosso fruto

Romper a casca dos limites
Preencher o oco das palavras
O ovo por dentro é sempre vazio

Desejo e liberdade
Que se mesclam formando o sumo das possibilidades
Vida e sagacidade
Que se enrolam na verdade vaidosa dos teus olhos
E o que se mistura, formando a fonte das minhas letras em ti:
Morte e imortalidade
Permitir-se é a lei da vida.

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