terça-feira, 19 de outubro de 2010

Cara

Cara, você é um tremendo otário
Vem de não sei aonde
Metido a não sei o que
Com um projeto não sei de que
Pensando que vai mudar alguma coisa

Chegaste aqui gravando conversa
Pedindo espaço e com pressa
E eu pensando: “que coisa é essa”
Que esse cara veio fazer

Vieste em minha casa
Comeste da minha comida
Conheceste minha família
E marcaste uma saída

Amigo, esse troço de artista
É uma coisa bem hipócrita
Tu mesmo já disseste
Falar a verdade e ajudar os outros
É o que importa

Vieste de um povo gigante
Com olhos de província
Colonialismo jogado de lado
Olhos mansos procurando abrigo

Entraste na minha vida
Te contei todas as feridas
Todas as loucuras
Toda a lógica que nem eu entendo

Te contei porque sofro
Porque penso
Como penso
Pra quem penso

Gravaste todo o recado
Vou ser agora crucificado
Por quem quer que venha ouvir
Mas com isso eu pouco me importo
O importante é ter o que falar


Ninguém
Ninguém mesmo
Sabe o que sou
Como eu sou
Porque sou

Ninguém
Ninguém mesmo
Sabe o que fui
Como fui
Porque fui

Depois de saber de tudo isso
Riste da minha cara
Riste dos meus versos
Disseste que eles não faziam sentido

Humilhaste minha veia poética
Pisaste na minha inspiração
Riste do que me era mais profundo
Do que me era mais particular

Rasgaste as minhas poesias
Perguntaste quem eu pensava que era pra pensar desse jeito
Disseste um bocado de desaforo
E ainda por cima disseste que eu sou ruim do jeito que sou

E no final acho que a verdadeira inspiração surgiu
Todo o meu mundo se subverteu
O que era fraco virou Teseu
Eu pensei mais mesmo que um filósofo desvairado

Disseste que minhas expectativas são furadas
Que vão me decepcionar
Que eu gosto do desconforto
Que eu gosto do sofrimento

Que eu sou uma personagem
Que eu me levo muito a sério
E que na verdade eu sou uma piada

Cara, quem tu pensa que tu és
Pra chegar na minha cidade
Na minha casa
No meu mundo
Na minha vida
E me dizer que eu posso ser feliz?

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