Ele se lacrou em versos rubros
Se violou em seus próprios versos de vergonha
Nas suas imaginações de sobrevivência
Nas suas más ações
No seu egoísmo altruísta
Evasão rápida e conclusa
Nada aqui muda
Nada aqui cala
Nada aqui se aquieta
Tudo aqui se acumula
És meu pai, meu deus e meu escravo
Derretendo mentes e corações
Ele conquistou as ruas, os olhos claros e escuros
Negros, jabuticabas, verdes, azuis, melados em suas rimas e
ritmos
Ele é o rei das minhas letras,
De meus dedos
Que marcam brandamente as teclas da velha maquina datilográfica
Agora ele é um cofre
Moribundo e fétido
Que arde em suas emoções reclusas
Nas sombrias passagens das almas
Ele é menino mendicante
Com fome e só
Fugindo de todo Sol, do todo lar e de toda bondade
Vomitando em si mesmo o ódio que se reservava no coração
lírico
Sim, ele é seu próprio alvo
Quer o olho do touro em sua ira
De tanto doar o doce lhe restou apenas o amargo do asfalto
E eu assisti e assisto tudo
Com ódio nos olhos, com amor no peito
Com tudo que me é
Ele é e eu também
Eu o sou e ele me é
Sou ele, ele sou eu.
Ele precisa me pintar a cara,
Me vestir de seu herói,
Me ninar a cada noite em que a fúria me domina
Me adoça com suas metáforas.
Limpo lágrimas, sangue e tinta.
Limpo letras, limpo sua língua com agua quente e olhos
negros
As petecas da minha cara são as mesmas da dele
Sim eu vou higieniza-lo na sua própria obra.
E nesse momento de dor e torres altas
Eu lhe lançarei os laços da minha farda
Protegerei seu coração de poeta em meu rosto maligno de
divindade.
Sim, o poeta se lacrou
seus porcos imundos
Seu mundo inútil
Sentireis a ira das minhas formas macabras
Sim, o Deus-Palhaço volta e toma o mundo de assalto.
Firam meu corpo mutilado por suas amarguras e mediocridades
Atirem em mim as balas egoístas das suas filhas, das suas
amantes.
Passem por cima de mim com suas coisinhas miúdas guardadas
no saco velho e furado da sua honra.
Traíste o teu maior aliado,
Aquele que mais te amou
Que mais te quis e que mais te fez apaixonar.
Agora eu sou o que lhes resta por enquanto.
Sim, não mais versos de boca suave
Agora apenas líricas de um coração espinhoso
De uma língua que berra ao invés de cantar
No meio-dia das vossas vidas lhes tirarei o sombreiro
E vou expor seu couro imundo ao Sol que vos crucificará
Permitirei que mesmo a Lua vos queime com minhas expressões
letais.
Não vos darei a compaixão
Foi com ela que apunhalaste o poeta que agora se esconde
Lavarei a alma do poeta com as suas lagrimas
Com suas lagrimas expostas pelo orgulho agora desnudo
Pelo vosso preconceito agora a mostra
Pelo vosso hálito de dor
Quando até vossas orelhas esquentarão no inicio do tormento
Vos darei apenas os olhos do juiz,
Só recebereis de mim barras e não mais chaves.
O poeta pintou a minha cara com seu amor
Agora eu limpo a dele com a dor em que fui forjado.
-Roquentin. (Sim, o palhaço)
31/01/2013
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