Pela primeira vez eu
senti a necessidade de um clima são.
Senti as pupilas
desejarem nada mais do que o são papel,
Senti os ouvidos não
ouvirem nada mais do que o são silêncio,
Percebi o corpo
sentindo a necessidade de todo o espaço possível
Sem interferências
de corpos no mesmo espaço.
No meio do turbilhão
da noite,
Guardado eu em meu
armário,
Cercado pelas
paredes tortuosas do destino que esculpi.
Abstive-me da
solidão e parti.
Os meus olhos
chegaram despretensiosos
Em ambientes tão
familiares, com belezas tão comuns.
O piso era o mesmo,
As paredes da mesma
cor,
As caixas dos
corações lacrados continuavam encadeadas no ordinário.
Nem o ar era
surpreendentemente novo,
Nem mesmo as janelas
estavam em ângulos diferentes.
Brotaste do
extremamente ordinário, do comum, do nada novo.
Com os quadris
repousados em tapete vermelho barato
E todas as outras
coisas sem beleza.
De imediato meus
olhos captaram a tua beleza.
A beleza que partia
da luz de todas as tuas formas.
Beleza partida, e em
partida,
Iluminando
humildemente o que poderia ser ofuscado.
Tuas retinas e tuas
coisas eternizando o que houvesse ao redor.
Dando de si e
tomando dos outros.
A voz mansa que
quase não respondia a estímulos
Caminhando
lindamente como sobre corda bamba,
Tocando os cantos
emadeirados,
Dirigindo sua beleza
pra tudo que não importava.
Na tua pele alva eu
vi os riscos do que ainda te restava de ti mesma.
Foi quando os olhos
apertaram e entenderam porque a tua pálida beleza.
Tiveste tua beleza
violentada
Pelos vis inimigos
do que és: transcendente,
E teus olhos,
faróis, se borraram no espelho,
No lago que afogaste
narciso também te afogavas,
Com tantas dores,
com tantos motivos.
Eu te quis pra mim
de imediato.
Te quis ressaltar
tua digna beleza,
Tirar a luz do teu
sol do inverno das tuas lembranças
E trazer à primavera
dos meus braços.
Nos meus braços.
E o teu sorriso se
abriu.
A felicidade brotou
dos teus rubros lábios,
A tua beleza hoje
grita e ordena,
E a cada vez que
teus dentes se mostram
O tempo emudece para
ti
Em um solene gesto
de reconhecimento da tua grandeza
Hoje teu sorriso não
vem mais do amarelo da boca
Mas do verde dos
teus olhos.
Vejo o banho que
tomas em plena caminhada
A higiene da tua
beleza que meus negros olhos que te observam.
As ideias com tanto
ritmo quanto teu corpo de pequena dançarina
Hoje saem de ti aos
berros
E a luz fosca que
antes vinha da tua cabeça,
Hoje vem vibrante
das tuas entranhas,
De tudo aquilo que
mais és.
E o que és?
És o repositório do
mundo,
O santuário onde
tudo se redime
E onde a beleza se
ajoelha.
Tens o gosto de
carne santa,
Onde toda a minha
poesia se alimenta,
Pois o teu toque
cura tudo em que falte arte,
E para tudo o que
queira correr.
Ah, benzinho,
Vês em mim beleza
Enquanto eu quero
apenas te mostrar o espelho.
És a magnitude das
inspirações,
De onde minha poesia
não mais precisaria de outra fonte
Senão te ter em mim
e pra mim.
És a ganância negada
às flores de terem todo o belo,
Pois tua pele, teu
corpo, teus olhos, lecionam ao imortal
E o imortal que
tentas captar está do outro lado da lente.
-Paulinho Tamer
01/01/2013
Todo poeta tem uma musa. A tua me parece ter pele de porcelana e olhos verdes. Uma musa com aparência digna da 2ª geração romântica, mas retratada com muito mais carinho.
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