terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Pequena Dançarina


Pela primeira vez eu senti a necessidade de um clima são.
Senti as pupilas desejarem nada mais do que o são papel,
Senti os ouvidos não ouvirem nada mais do que o são silêncio,
Percebi o corpo sentindo a necessidade de todo o espaço possível
Sem interferências de corpos no mesmo espaço.

No meio do turbilhão da noite,
Guardado eu em meu armário,
Cercado pelas paredes tortuosas do destino que esculpi.

Abstive-me da solidão e parti.

Os meus olhos chegaram despretensiosos
Em ambientes tão familiares, com belezas tão comuns.
O piso era o mesmo,
As paredes da mesma cor,
As caixas dos corações lacrados continuavam encadeadas no ordinário.

Nem o ar era surpreendentemente novo,
Nem mesmo as janelas estavam em ângulos diferentes.

Brotaste do extremamente ordinário, do comum, do nada novo.
Com os quadris repousados em tapete vermelho barato
E todas as outras coisas sem beleza.

De imediato meus olhos captaram a tua beleza.
A beleza que partia da luz de todas as tuas formas.
Beleza partida, e em partida,
Iluminando humildemente o que poderia ser ofuscado.
Tuas retinas e tuas coisas eternizando o que houvesse ao redor.
Dando de si e tomando dos outros.

A voz mansa que quase não respondia a estímulos
Caminhando lindamente como sobre corda bamba,
Tocando os cantos emadeirados,
Dirigindo sua beleza pra tudo que não importava.

Na tua pele alva eu vi os riscos do que ainda te restava de ti mesma.
Foi quando os olhos apertaram e entenderam porque a tua pálida beleza.

Tiveste tua beleza violentada
Pelos vis inimigos do que és: transcendente,
E teus olhos, faróis, se borraram no espelho,
No lago que afogaste narciso também te afogavas,
Com tantas dores, com tantos motivos.

Eu te quis pra mim de imediato.
Te quis ressaltar tua digna beleza,
Tirar a luz do teu sol do inverno das tuas lembranças
E trazer à primavera dos meus braços.
Nos meus braços.

E o teu sorriso se abriu.
A felicidade brotou dos teus rubros lábios,
A tua beleza hoje grita e ordena,
E a cada vez que teus dentes se mostram
O tempo emudece para ti
Em um solene gesto de reconhecimento da tua grandeza

Hoje teu sorriso não vem mais do amarelo da boca
Mas do verde dos teus olhos.

Vejo o banho que tomas em plena caminhada
A higiene da tua beleza que meus negros olhos que te observam.

As ideias com tanto ritmo quanto teu corpo de pequena dançarina
Hoje saem de ti aos berros
E a luz fosca que antes vinha da tua cabeça,
Hoje vem vibrante das tuas entranhas,
De tudo aquilo que mais és.

E o que és?

És o repositório do mundo,
O santuário onde tudo se redime
E onde a beleza se ajoelha.

Tens o gosto de carne santa,
Onde toda a minha poesia se alimenta,
Pois o teu toque cura tudo em que falte arte,
E para tudo o que queira correr.

Ah, benzinho,
Vês em mim beleza
Enquanto eu quero apenas te mostrar o espelho.

És a magnitude das inspirações,
De onde minha poesia não mais precisaria de outra fonte
Senão te ter em mim e pra mim.

És a ganância negada às flores de terem todo o belo,
Pois tua pele, teu corpo, teus olhos, lecionam ao imortal
E o imortal que tentas captar está do outro lado da lente.

-Paulinho Tamer
01/01/2013

Um comentário:

  1. Todo poeta tem uma musa. A tua me parece ter pele de porcelana e olhos verdes. Uma musa com aparência digna da 2ª geração romântica, mas retratada com muito mais carinho.

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