quinta-feira, 13 de junho de 2013

Água

O início é como a gênese: escuro e desconexo
E ao caos tua pele comanda ordem.
Compelindo os dedos a escrever
E os versos e frases a se derramarem no frio papel.
Dando revoada às letras.

Os olhos que pousam lentamente a mesa,
Que descansam no senso da vergonha
E orgulhosamente tentam mostrar o absurdo ao a olhar para o alto.

A luz que revolta-se em focar,
Preocupa-se mais com cegar, dopar, paralisar.
As retinas e pupilas que agora olham através de lentes,
Eternizando o sopro de calma de cada segundo
Como se o segundo por si só já não fosse sereno só por tê-la.

E quando olhos dementes feriram sua estima,
Os faróis do mundo se apagaram,
As verdades são suposições,
Os olhos que alvoreciam a alma dos poetas
Tornaram-se o anoitecer da vida a seu redor.

Mas o cheio não torna-se vazio
E completo não pode ser fração.
O sublime não pode descer ao belo.

Tua beleza não pelo preço de um copo levantado
Mas pelo preço de tinta e corpo, meus.
Teu humor não pela mísera hora da noite.

E descrever a tua maneira de levar o copo à boca
É suportar o peso de traduzir obra de arte nunca terminada.
Porque pelo teu tom e pelo teu toque tudo se inaugura de novo.

A ironia do refrão é que nada disso te faz sentido.
Conheces o teu pequeno poder de apagar ,
Sem perceber a enorme naturalidade com que podes escrever, gravar, eternizar.
Assim como te eternizo agora
E como ainda te farei imortal outras vezes.

E é o teu senso de imortalidade que falha
Não percebes que ao redor da tua palavra
Tudo se torna imortal
E o tempo hesita em passar.

És assim!
Mesmo que não queiras,
Mesmo que insistas no contrário.
O que é teu não podes abandonar
E as tuas mãos produzem a luz diária
Ainda que prefiras o gelo, muito gelo.
E com pouca água, por favor.


O imortal em ti é toda a peculiar maneira como exalas poesia sem saber
E sem querer.

Aqui, no último verso dessa serena prece de um poeta,
Te mantenho gravada entre as letras,
No último suspiro que precede o sono
Não te dei a morte que te fizeram acreditar ser parte tua,
Te dei vida eterna,
Talvez borrada e manchada por meus olhos as vezes turvos,
Mas ainda clara enquanto durar o embalo do teu respirar.

-Paulinho Tamer

13/06/2013

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