Partiste sem dor
Com teus olhos deixando os meus
Sem pensar na ida
Ansiando pelo retorno
E a lua se pôs com a tua partida
Dando lugar a um sol de possibilidades
Desestabilizando toda angústia
Desconstruindo toda a lógica medíocre
Reformulando distância em saudade
Toda dor em vontade
És a morfina do mundo
Amenizando ou curando
Tudo que possa dar fim
Nada em ti ou em mim se finda
O nosso olhar silencioso
Grita e quebra os copos da solidão
Faz escuridão em companhia
Dando luz ao janeiro frio
Clarificas as palavras
Que parecem se complicar
E ter as mãos geladas
Ao tentar te explicar
És ser sem explicação
Que se vive em plenitude
Na constância do dinâmico
E na beleza do sensato
O final do teu tempo
Foi o início do próprio tempo em si
Foi o relógio que começou a correr
De forma tradicional
Sem hora pra parar
Sem contagem a fazer
Só mesmo dando ritmo a nós dois
As dúvidas padecem com a tua presença
Estremecem ao ouvir tua voz
Trazes a baixo a fortaleza
Do que se conhece por separação
A tua presença é vivida e vivificante
Como a primeira respiração consciente da manhã
Como o teu perfume
Ressuscitando o que se parecia perdido
Partiste me deixando a esperança pendurada no peito
Em um círculo formado
Como o que se formou
Sem início nem fim
Composto só por um percurso infindável de possibilidades
Onde o seu fim
Nada mais é do que o prelúdio do recomeço.
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