terça-feira, 30 de novembro de 2010

O real

Eu te observo passar e falar

Vendo com teus olhos espelhados

Toda a dúvida dos homens

Dúvida que não portas

Que não te contamina


A tua certeza aumentando freqüências

De pensamentos

De batimentos


Vieste aqui

Me mostraste o real

E violentas minha inspiração

Como animal faminto

Justificando toda a presença do teu contraditório

Me fazendo derramar-me em papel sem pauta

E sem paradigmas


Enfraqueces toda hipocrisia

Vivificas todas as possibilidades de acerto

Mortificando o fracasso em tudo que tocas


És a máxima expressão de liberdade


Contradisseste toda a poesia já escrita

Subverteste o conceito de doçura

Transformando em perfeição

Toda a tua demonstração de rebeldia


Tu gritas na cara do viver

Agarrando a aventura pelos cabelos

Fazes a vida desejar morrer por alguns segundos

E viver assim como tu vives em mim

Entre as notas

O tal do silencio entre sons


És o impropério gracioso

A falência aterradora dos poetas

O pântano tentador do paraíso


Absorvendo para ti

Toda a minha inspiração pelo real

Toda a minha poética antes sufocada pelo utópico

E agora transformada na tradução do que tento te definir:

Perfeição irônica e indefinível.

domingo, 21 de novembro de 2010

Monstro

Eu penso em ti

No cheiro do café requentado

Nas noites ingratas

E em todos os momentos e coisas nostálgicas do dia-a-dia


Nem foste tão duradoura em meu pensamento

Nem foste tão marcante em minha vida

Mas foste tão conturbada quanto eu


Tão desajeitada em tuas coisas

Tão completa de palavras e argumentos


Nunca foste fisicamente atraente

E nem moralmente correta

Nunca foste um exemplo a ser seguido

E nem nenhuma dama social


É, o que me atraiu em ti

Sempre foi tua sinceridade abusada

Tua verdade estúpida

E a tua total falta de condescendência


Teus cabelos negro-rebelde

E o caimento que davam em teu pescoço

Eram realmente atrativos físicos


Teu corpo também

Mas tuas feições sempre foram duras demais

Para que fosses um exemplo de beleza.


Estupidez da natureza reinventada

Do contraditório gritante

Da tua pele congelada em sedução

E derretida em pecado


Configurando toda a perdição dos homens

Na tua infantil brincadeira de ser mais do que és

De ser o além de ti

De criar a paixão

E por fim

Arrancar sangue dos que cativas

Doce monstro, meu amor.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O que não é

O tempo

Algoz da carne

Ainda não me permitiu consumar-te

Como parte serena de mim


Não, ainda não

O tempo só me permitiu admirar-te

E perpetuar a minha esperança

No ser humano que és


Razão primeira de primavera

Noção única de beleza


Os teus olhos serenos e embaraçados

O teu charme revoando no deserto das duas

Compensam todo o sacrifício de te admirar de longe

Contemplando a tua calma e o teu caminhar


Ah, sinceridade exacerbada da minha carência

Me faz dizer o que quer enterrar-se calado

Quer gritar o que vive amordaçado


Não te envergonhes por um minuto do que és

Nem dês passos atrás

És incapaz de hesitações

Mas hospedeira de uma insegurança graciosa


Teu carinho fugaz

É sempre o desafio de mais um dia de conquista

Pequena menina dos cabelos coloridos


Os que não tremem diante de ti

São os que não compreendem a grandeza da tua presença

Os ignorantes que perdem o sabor de escrever-te


Ah, meu bem

Vou te dizer

São tantas coisas ainda caladas

Que amenizam a espera

Que vibram em consonância com a minha inspiração


Não és uma

Mas uma multiplicidade de seres sublimes

Que permanecem misteriosos para mim

Mas que meus olhos caçam em ansiedade

Buscar o verdadeiro significado belo da tua existência.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Inverno em mim

Não é segredo que eu me fascino por ti

Não, meu bem,

É bem verdade que o teu jeito de andar

Laça meus olhos em contemplação


Os teus incômodos

E o teu sorriso

São sempre chamativos e fraternos

Imitados pela a chuva das três


A forma como a manhã se mexe

Tem a beleza pendular dos teus cabelos caídos

Esses teus cabelos de uma cor que não defino

Essa coisa toda de caracóis misteriosos


Estranhos brilham meus olhos

Quando se deparam com o inverno da tua pele

Esse implacável e majestoso

Interminável e magnífico


Ah, chérie

Falar dos teus olhos é difícil

É tentar descrever o tudo

Sem perdão a erros

Confesso que me intimido por eles

Que me pego subestimando o sublime

E tentando ser alvo

Amo-os de qualquer forma

Baixos, calmos, excitados

Alegres, perdidos, confusos

Adoro quando se escondem atrás de vidros

Fato é que és feita de poesia indizível

De uma poética sutil e delicada

Na mais forte forma de independência

Encerrando todo o sentido de graça

E portando uma beleza que nunca se põe.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Desculpa!

Tu és um ser estranho
Esquisito
E brilhante
De súbito somes
Me avisando que sumirás
Me contaminando com essa saudade

A tua ausência me persegue
Como sombra virulenta de vontade
Grito surdo de paixão
Razão nobre do pensamento

Avistar-te caminhando em distância
É dor e contemplação
É querer tocar sem alcançar
É me perder em imaginação da plenitude dos teus lábios

Protejo-te da minha saudade
Te poupando onde posso a tranqüilidade
Até me deixar sucumbir pelas letras
Pela poesia minha que me suga
E te admira
Ah, como és assim tão clara
Tão transparente
E tão surpreendente
Aglomerado de contradições
Idealizada vividamente pela emoção

És filha do sublime
Tua língua é doce
E sem misericórdia
Teus olhos mansos
E fatais
Tuas mãos leves
E dominadoras

É assim mesmo
Trepidando os olhos que te observam
Encarando-os com teu espírito
Com tua palavra vivificante
E mortífera

Sem movimentações bruscas
Tens gestos leves como o de um predador
Mas que deseja ser caça
Divina contradição natural.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Pretinha

Eu me mal acostumo

Com toda essa tua imagem

Bem definida

De coisas inconstantes e impalpáveis

Eu refratei-te

Em cada canto do meu ego

Me assanhando os pelos do sensato

E concluindo o que gostaria que restasse para sempre incompleto


Entraste por uma passagem quase que improvável

E justificaste toda a existência de flores

Planificaste todas as possibilidades de beleza

Atrevendo-se a compor frenesis de saudade


Ai, meu bem,

Esse meu ai se repete a cada vez que te vejo

Inundando minha imaginação

Invadindo minha inspiração

Perturbando a ordem natural dos meus pensamentos

Mudaste os conceitos e concepções de graça e sedução

Conferindo novo significado ao existir

Semente de perfeição

Germinar do belo


Vejo-te como a nascente de toda a poesia

De todas as coisas que são tão naturais como a chuva

Sim, és deslumbrantemente perfeita

Como tudo aquilo que é imutável e absoluto

Perpetuando todas as possibilidades e ângulos do viver


Ah, pretinha

Se eu pudesse te dizer todas as coisas reais que és

Se eu pudesse te mostrar a única forma que o mundo pode te ver

És fraternidade dos adjetivos

E agrupamento de qualidades

Alvo de todos os meus elogios

E vida contemplativa


Não, eu não te prometo o ausente

Desculpe, mas é minha natureza

É minha natureza buscar o teu natural

Cercear toda a distância de se expandir

Convocar todas as espécies de metáforas

Para tentar explicar-te em vão


Esquecer-te é tarefa de seres que não existem

Daqueles que não tem olhos ou bocas

Que tateiam a infelicidade como única possibilidade de vida

Sim, és personificação da noite

Do encerrar de tudo

Porque toda a beleza, graça, mistério

Sedução, contemplação

Completude, perfeição

Encerram suas existências quando em contato contigo.