A chuva derrama sua lagrima diária
Compelindo o mundo a chorar com ela
Lavando a rua dos sangues escusos e espúrios
A tempestade arrasta com o vento
Os nomes prostituídos deixados a beira pista
Levando consigo todos os lamentos da pobreza
Ah, quem me dera a chuva lavasse meus olhos
Pra não ter necessidade da lágrima resoluta
Quem dera a chuva limpasse meu rosto
Da feição feliz e resignada de saudade
Quem dera a tempestade
Arrastasse consigo as lamúrias do meu peito
Ardente em vontade
Sereno em amor
Que o vento emasculasse meus sentidos
Ou pelo menos os sentimentos
Por um dia, uma hora, uma semana
Poupando-me da distância
Das léguas
Dos quilômetros
Assim vivo eu
Assim vive meu poeta
Pela primeira vez
Mesclados em um único corpo
Hospedeiros de um mesmo amor
Vítimas e autores de um mesmo delito
Misturando ego e eulírico
Numa uniforme paixão por teus olhos
Assim vivo eu
Assim vive meu poeta
Feito índios dançando à chuva
Como ciganos migrando em direção a tua beleza
Como balonistas
Implorando ao vento sua misericórdia
De levar-nos ao teu encontro
Que nos permita de bocas abertas à tempestade
Provar tua saliva que irrompe em luz pelo espaço que nos separa.
Tua palavra
Tua vida
Tua luz
São as causas pelas quais pecamos
São os motivos pelos quais somos criminosos
São o caminho por onde juramos um dia não passar.
Nosso maior crime
Nosso maior pecado
Nossa maior infâmia
E nossa maior sorte
Foi amar-te como um só.