Fácil falar do amor em dor
Em pêsame
Em perda
Em separação
Mas teu amor em mim
Se mostrou mais que tudo
Mais que um dom
Mais que uma memória
Mais que um professor
Caminhando pela seara do meu desconhecido
Contemplo minha razão
Meu troféu solitário
Em completa balburdia
Em decomposição
Substituíste meu frio pensar
Pela alegria dolorida da emoção
Pelo amanhecer do meu amor por ti
Ainda inclino a cabeça para ver-te
Como o lobo que se curva para ouvir o vento
Freando meu pensar
E dando força ao gatilho do que me infesta
Ao refeitório lúcido do meu amor
És minha refeição
Meu pão diário
Aquilo que não pode me faltar
O incisivo golpe que cega
E a soberana ordem que dá vida
És o nascer e o renascer meu
O intuitivo modo de abrir os olhos
O involuntário ato de respirar
És um verso claro
Límpido e transparente
Que parte de mim
Da minha boca
Das minhas letras
E toma o mundo com a autoridade da tua beleza
Ah, meu bem
Te vejo como a flor
Que não padece sob o outono criminoso
Te vejo como a morte de todo ímpio
Como a extirpação de toda a minha iniqüidade
Me permites equilíbrio,
Sobriedade e felicidade
És meu começo e minha metade
Minha fartura e minha falta
Minha luz e meu pensar
És o beijo do vento em meu rosto
Meu amor em paz composto
Minha fatia de divindade
Teu amor por mim me invade
Me toma e me agracia
Me permite o sacrifício dos meus erros
E a premiação dos meus acertos
É o coração jovem que bate ruborizado
Em plena atividade de vida
O organismo que nunca padece
És parte mulher e parte inverno
Parte menina e parte calor
Parte de mim e parte de tudo
Pois parte de mim para ti
Meu amor, meus versos, meu mundo.