terça-feira, 22 de março de 2011

Natureza Descomposta

Eu nasci eivado em solidão

Composto pela matéria alva do individual

Procurando em meio a olhos

A ridícula companhia da vida


Eu me encontrei no aperto confortável do peito

Na doença leve da alma

E na suave natureza solitária que aceitei ser minha


A ponta dos meus dedos é gelada

Sem nenhuma pretensão de tocar outra pele

Com pouca intenção de reformar a mim mesmo

Nem mesmo de fraturar a solidão alheia


Eu sou o que sou

De natureza individual

Sem companhia suficiente

Sem outro ser humano correspondente


Assim eu pensava

Mas não mais assim vejo


Vejo agora o aparecimento de doenças antigas

Seguindo de forma cogente a lei da cura

Troquei instintivamente

A suavidade da solidão

Pela dureza amável da companhia

Mas e minha natureza?

Onde fica?

Não era eu o homem auto-suficiente?

Não era eu o que independia do próximo?

Não era eu aquele que negava a fraternidade da minha natureza?

Não era eu aquele que investigava o âmago alheio

Com olhos de besouro e compaixão de lobo?

Que olhava o outro como uma peça de um estratagema lógico?


Não há sentido nisso tudo


Me recompus enquanto ser humano

Mas me indaguei o dilema de minha natureza

Como poderia eu ser um ser fraterno?

Como poderia eu ser companheiro?

Como poderia eu ter companhia?

Eu me conhecia pela solidão inveterada

E, na doçura do amadurecimento,

Me vi assim

E vi assim

Que não há natureza que possa me compelir

A ser algo diferente de meus sonhos.

sábado, 19 de março de 2011

Desnublar

Eu tenho passado dias sem um sol no céu

Dias em que as nuvens escondem a beleza celestial

Dias em que o negro do firmamento

Não me permite avaliar a beleza do acima

São dias úmidos e difíceis para a natureza

Dia em que tudo chora

Em que tudo lacrimeja


Eu tenho caminhado por ruas vazias e claras

Em que rostos estranhos e frios tem me chamado a atenção

Eu tenho andado por onde ninguém mais anda

Só as almas perdidas como antes a minha era

Pensam em dar passos largos e velozes

Em direção a um destino desconhecido

Indo de encontro com um objetivo até agora misterioso


Nada disso me importa

Nada disso me aflige nos dias que vivo


Vejo que nada entristeceu

Nenhum céu enegrece a toa

Nenhuma nuvem derrama lágrimas pelo simples ato

Nenhuma física explica o que se passa com a natureza


Tudo, na verdade

É composto por uma física volitiva e passional

Que o céu, as nuvens e o sol

Tem de reverenciar

Uma beleza tão cotidiana

Tão castanha

Tão grandiosa

Tão peculiar


A lógica esvaiu-se do natural


Hoje, as nuvens me cercam por essas ruas

Hoje, o pranto do céu só lava o chão por onde passo

E, hoje, o Sol saiu do céu e caminha a meu lado


É, meu bem

O mundo se rendeu a tua impaciência

A vida rendeu-se aos teus olhos grandes

Para que tu,

Inexplicavelmente

Desse a luz ao meu amor.