segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Um outro Eu


Me dá um frio na barriga ver o papel branco em minha frente esperando de mim letras solidárias com sua completa solidão que não pode ser detida por meros versos um tanto mentirosos de uma imaginação fértil e marcada por tanto sofrimento que hoje em dia tenta vencer.

Penso no papel em branco e limpo que por minha poesia espera como o alimento que espera o animal faminto. Espero deixar-me devorar por um papel em branco, espero entregar-me de corpo e alma para a arte que escolhi defender.

Espero dar-me aos lápis como Daniel foi dado aos leões. Entreguei-me ao ato de escrever como um apaixonado entrega seu coração. Como Dr. Augusto entregou-se a Mila de azul na janela.

Procurei em mim mesmo os motivos para escrever, assim como Rilke me ensinou, procurei a solidão própria, o próprio sofrimento para tentar explicá-lo para mim mesmo, procurei por mim mesmo dentro de meu eu próprio.

Tentei encontrar-me em meio a meus versos de amor, de saudade, de verdade, de solidão, de pureza, de tristeza, de excitação. Fui o mais fundo possível em busca de tentar explicar-me o porquê de ter essa condição que ao mesmo tempo brinda a possibilidade de encantar e transforma-me em um ser que se questiona e sofre com o produto de suas próprias perguntas que não podem ser respondidas, mesmo sabendo que dentro de seu próprio ser as respostas para a sua libertação jazem nos cantos recônditos de sua imaginação e paixão intensas.

Cavei até o último palmo, certificando-me de não haver mais fundos a cavar, cheguei ao outro lado de meu próprio mundo onde encontrei um ser totalmente diferente e com feições brilhantes e doces, tinha meu rosto, mas tão radiante de amor e paz que não reconhecia minha própria imagem confrontando-me. Suas vestes azuis como safira me brindavam os olhos, me dava temor pensar nos porquê daquele encontro tão bendito. Mãos mansas e pesadas, ombros caídos, a barba um pouco por fazer, bem como deixo-me ficar de vez em quando.

Ah, era um ser magnífico, cheio de sonhos, suas palavras eram como o encontro de toda a poesia que eu poderia produzir em toda a minha vida. Suas obras e castelo concretos eram meus sonhos que eu ainda podia ver nas nuvens de minha imaginação fértil. Seus olhos eram tão apaixonados como os meus um dia ainda sonham ser. Tinha em seu coração que palpitava cristalinamente o sentimento poético da paz mentirosa, mas em tom de verdade.

Tinha em suas mãos sujas de tinta, uma espécie de caneta que dava vida a tudo que escrevia, criaava os sentimentos mais bem definidos que eu já tive o prazer de ver, escrevia livros em apenas uma frase. Era o mais sábio dos seres que eu tive o prazer de conhecer e ao mesmo tempo ao invés de usar de palavras complicadas, fazia a todos entender, encurtando a distância do saber.

Sua poesia era tão magnífica que todos poderiam senti-la invadindo o mais caduco dos corações habitantes deste mundo.

Então subitamente ele invadiu-me a mente com seus olhos, tocou-me o peito, baixou a cabeça e fez com que dissesse com sua voz mansa e calma: "eu sou o que você é, ontem e amanhã".

Logo acordei da jornada em busca de mim mesmo, vendo-me em um homem diferente, em minha mão direita havia uma caneta, em meu braço esquerdo estava escrita a frase dita por meu anjo pessoal, pergunte por muitos dias como era possível tamanha coisa estranha ter me acontecido no curso apenas de um sonho. Passei dias indagando-me como me acreditariam. Breve desisti de questionar-me acerca de tudo, deixei de tentar entender mentes que foram tão inteligentes e tão sódidas e foquei-me apenas nas mentes simples e bondosas que um dia já cruzaram meu caminho sem que tenham tido a atenção que mereciam, percebi que a simplicidade na vivência é o que a torna agradável e nos dá o que parecia antes inatingível: a felicidade.

Abri os olhos essa manhã e vi que o Sol brilhava, foi então que eu me apaixonei pela vida.

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