Eu quero dar-te a flor do tempo
Não para que a vejas florir
Mas para que admire o seu perecimento
Perto da tua carne, perto do teu sopro.
E no convite da beleza dos ponteiros
Possas ver-te refletir no relógio parado
Nas válvulas quebradas
Do motor estático
Que perde sua força motriz.
Fechas os olhos e tudo se esvai
Abaixas as pálpebras
E me presenteias com o gelo das horas
Assim te fazes: guardiã dos absolutos
Aquela que desvirtua os mutáveis
Que violenta meus horizontes
Que me dá a poesia
Vivida, chorada, cantada.
Mas não escrita.
Eu vejo que não gostas de poesia
Mas tu, para que gostar?
Transpiras fermento da mente dos poetas
Fertilizas a semente das imaginações
És o irrigar das inspirações.
Te tornaste a lavoura dos meus versos
Onde o trabalho é minha religião
E o colher é meu cristo
És uma presa
Inalcançável ao instinto predatório
Inestimável a tua matilha que és tu mesma.
Passeias pelos vales dos meus olhos
Onde o seguir-te não é opção
Onde o querer-te não é voluntário.
És um verso torto e sem rima
Eivado de beleza ferina
Onde a tua cor castanha
Divina e humana
Faz de meu amor por ti, doce criatura
O mais belo bem libertador.
Paulinho
01/06/2011